O que está acontecendo na Líbia? Inundação deixa mais de 5 mil mortos | Mundo – Finanças Global On

O que está acontecendo na Líbia? Inundação deixa mais de 5 mil mortos | Mundo

Fortes chuvas no nordeste da Líbia, provocadas pela Tempestade Daniel, causaram o colapso de duas barragens no domingo (10), inundando cidades na região, especialmente Derna. Ao menos três pontes foram destruídas, as linhas telefônicas não estão funcionando e dezenas de casas foram completamente arrastadas para dentro do mar Mediterrâneo. Os números de afetados ainda são incertos, mas há ao menos 10 mil pessoas desaparecidas e mais de 40 mil tiveram que deixar suas casas.

As estimativas são que mais de 5 mil pessoas morreram, segundo Tamer Ramadan, chefe da delegação da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho na Líbia. Já o governo libanês estima que o número de óbitos passa dos 5,3 mil, incluindo145 egípcios.

Levando em consideração esses números, as enchentes na Líbia são a segunda mais mortal no norte da África no último século, ficando atrás apenas do desastre natural ocorrido na Argélia em 1927, quando cerca de 3 mil pessoas morreram, segundo dados da “CNN”. Os dados da Líbia, porém, ainda estão sendo constantemente atualizados.

Mismari, porta-voz do Exército Nacional Líbio (LNA) que administra a região nordeste do país, disse que as inundações afetaram várias cidades, incluindo Al-Bayda, Al-Marj, Tobruk, Takenis, Al-Bayada, Battah e Benghazi. Pelo menos 37 edifícios residenciais foram arrastados para o mar.

Em Bayda, a quarta maior cidade da Líbia, a chuva acumulou 414,1 milímetros entre domingo e segunda-feira (11).

Militares foram deslocados para a região, mas diversas cidades ainda estão inacessíveis para as equipes de resgates. As autoridades líbias precisam de três tipos de grupos de busca especializados, incluindo equipes para recuperar corpos em vales irregulares depois das águas recuarem, equipes para recuperar corpos debaixo dos escombros e equipes para recuperar corpos no mar, acrescentou Mismari.

Na cidade portuária de Derna, onde duas barragens foram rompidas por causa das chuvas, ao menos 6 mil pessoas ainda estão desaparecidas e 2,3 mil morreram. De acordo com a “CNN”, os hospitais e os necrotérios da cidade já operam com capacidade máxima e há fila de espera.

“A Líbia não estava preparada para uma catástrofe como esta. Admitimos que houve deficiências, embora esta seja a primeira vez que enfrentamos esse nível de catástrofe”, disse Osama Aly, representante do serviço de ambulância e emergência, ao canal “Al Hurra”.

O governo do oeste da Líbia, com sede em Trípoli, enviou um avião com 14 toneladas de suprimentos médicos e 87 profissionais de saúde para Benghazi. Esse governo também afirmou também que investiria o equivalente a US$ 412 milhões na reconstrução de Derna e de outras cidades do leste do país.

O que causou as fortes chuvas?

As chuvas foram causadas por um sistema de baixa pressão, que também provocou inundações na Grécia na semana passada e se transformou num ciclone tropical Mediterrâneo, conhecido como “medicane” que acontece na região do Mar Mediterrâneo.

Ciclones são tempestades formadas em centros de baixa pressão e tendem a acontecer em regiões onde as águas de oceanos ou mares atingem temperaturas acima dos 26ºC. “A água mais quente não só alimenta essas tempestades em termos de intensidade das chuvas, mas também as torna mais ferozes”, disse Karsten Haustein, climatologista e meteorologista da Universidade de Leipzig, na Alemanha, ao “Science Media Center”.

Haustein afirma que a chuva acumulada no nordeste da Líbia chegou a 440 milímetros desde domingo.

Conflitos políticos dificultam operações de resgate

Há mais de uma década a Líbia enfrenta disputas políticas entre dois grupos rivais, o que dificulta a coordenação de ações de emergência no país.

O Governo de Unidade Nacional (GNU), apoiado pela ONU, liderado por Abdulhamid Dbeibeh, tem sede em Trípoli, no noroeste da Líbia. Já a parte leste do país é controlada pelo comandante Khalifa Haftar e pelo Exército Nacional Líbio (LNA), que apoiam o parlamento liderado por Osama Hamad.

A cidade portuária de Derna, que fica a cerca de 300 quilómetros a leste de Benghazi, está sob o controlo de Haftar e da sua administração.

A complexa política do país “representa desafios para o desenvolvimento de estratégias de comunicação de riscos e avaliação de perigos, coordenação de operações de resgate e também, potencialmente, para a manutenção de infraestruturas críticas, como barragens”, disse Leslie Mabon, professora de Sistemas Ambientais na The Open University, no Reino Unido, ao “Science Media Center”.

Brian Lander, vice-diretor de emergências do Programa Mundial de Alimentos da ONU, disse que a organização tinha suprimentos de alimentos para 5.000 famílias.

A Turquia disse que enviaria 168 equipes de buscas e resgaste a Benghazi e aviões turcos levaram ajuda humanitária a Líbia, de acordo com a Autoridade de Gestão de Emergências da Turquia (AFAD).

A Itália também está enviando uma equipe de defesa civil para ajudar nas operações de resgate, disse o Departamento de Proteção Civil do país. Já a embaixada dos Estados Unidos na Líbia disse que o seu enviado especial, o embaixador Richard Norland, fez uma declaração oficial de necessidade humanitária.

“Isto autorizará o financiamento inicial que os Estados Unidos fornecerão em apoio aos esforços de socorro na Líbia. Estamos em coordenação com parceiros da ONU e autoridades líbias para avaliar a melhor forma de direcionar a assistência oficial dos EUA”, publicou no X (ex-Twitter).

O presidente dos Emirados Árabes Unidos, Zayed Al Nahyan, ordenou o envio de ajuda e equipes de busca e resgate, ao mesmo tempo que ofereceu suas condolências às pessoas afetadas pela catástrofe, informou a agência de notícias estatal.

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