Dolarização é um erro que desvia o foco das prioridades, diz economista argentino | Mundo – Finanças Global On

Dolarização é um erro que desvia o foco das prioridades, diz economista argentino | Mundo

Um dos mais conhecidos e respeitados economistas da Argentina, Miguel Ángel Broda, conhece bem o favorito para as eleições presidenciais argentinas, o ultradireitista Javier Milei. E diz que, apesar da retórica radical, ele deveria assustar menos os investidores e o mercado argentino do que seu adversário peronista, o atual ministro da Economia do país, Sergio Massa.

Milei chegou a ser economista-chefe da firma de consultoria Estudios Broda. “Numa análise das candidaturas, a equipe de Patricia Bullrich [candidata de centro-direita da coalizão Juntos por el Cambio] é mais séria, mas Milei é mais inteligente do que todos eles”, disse Broda. “Há dias eu falava com Pérsio Arida, o aluno mais brilhante que tive na Universidade de São Paulo [USP, onde Broda lecionou de 1976 a 1979], que Milei era o que tinha um dos QIs mais próximos ao dele”, afirmou.

Broda acredita que a candidatura de Bullrich ficou muito abalada com o resultado das Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias (Paso) de 13 de agosto, nas quais sua coalizão chegou dividida. A maior parte das pesquisas argentinas indica hoje que o primeiro turno de 22 de outubro deve levar Milei com tranquilidade à segunda votação, em 11 de novembro, com Massa e Bullrich disputando a segunda vaga.

“Milei se tornou um caso de êxito político-eleitoral por duas causas: falou de dolarização, que afeta diretamente a maior parte da classe média, e atacou a casta dos políticos”, afirmou Broda. Ele considera, porém, que a principal bandeira da campanha de Milei, a dolarização, é um erro, por tirar o foco das verdadeiras prioridades do próximo governo, que é o de promover reformas fiscais para ancorar a inflação e reduzir impostos para criar confiança e voltar a atrair investimentos.

E, em muitos pontos a ideologia anarcocapitalista de Milei “faz com que antes do problema ele já tenha a solução”. “Isso pode ser uma trava. A ideologia e a doutrina de Milei são um grande problema”, disse Broda.

Bullrich e Milei buscam sair da decadência, mas se perdem em debates irrelevantes como a da dolarização”

Enquanto isso, “Massa se empenha em agravar sua herança de desordem”, afirmou Broda. “Ou seja, o próximo governo vai ter pela frente uma enorme fragilidade e vulnerabilidade macroeconômica”, disse. Ele prevê uma contração de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina neste ano, uma inflação anual de 170% em dezembro e um déficit fiscal de até 12% do PIB — a meta era de 2,5%.

A seguir, os principais trechos da entrevista que Massa concedeu por videoconferência ao Valor:

Valor: A Argentina passa por uma longa crise, que reduz o tamanho de sua economia há anos. O sr. acredita que o país tem hoje algum candidato que seja capaz de fechar feridas e trazer confiança aos investidores e aos mercados?

Miguel Ángel Broda: Ainda não. Dois dos três candidatos, Javier Milei e Patricia Bullrich, estão encarregados de reverter a atual decadência. Ou seja, têm clareza de que precisa haver uma nova organização econômica na Argentina. Mas nenhum deles é visto pelo mercado como opção segura. No caso de Milei, é tratado ainda como um homem-show. É uma pessoa muito inteligente, mas solitário, não experimentado e — na verdade — o mercado tem muitas dúvidas sobre a capacidade dele de fazer o que propõe e, sobretudo, sobre a governabilidade que pode ter. No caso de Bullrich, é uma boa espécie de economista, com muito talento, mas perdeu a imagem de liderança que tinha depois de ter-se surpreendido negativamente com o resultado das primárias [em termos individuais, foi apenas a terceira candidata mais votada], parece estar ainda se recuperando do impacto. Entendo que um triunfo de Bullrich seria preferível para os mercados a uma vitória de Milei.

Valor: Os dois seriam as opções para tirar o país do atoleiro em que se encontra há vários anos?

Broda: A boa notícia é que ambos tentam reverter o processo de aceleração da decadência por meio da instauração de um novo regime econômico. A ruim, no entanto, é que os dois parecem mais preocupados agora com questões irrelevantes. Insistem em discussões como a de dolarização ou bimonetarismo enquanto o ministro-candidato [o peronista] Sergio Massa se empenha em agravar sua herança de desordem — ou seja, o próximo governo vai ter pela frente uma enorme fragilidade e vulnerabilidade macroeconômica e em lugar de preocupar-se com o sistema monetário, os candidatos deveriam estar discutindo como se sai desta situação macroeconômica que Massa eventualmente deixará.

Valor: Os investimentos que se esperam, então, ainda demorarão a retornar à Argentina?

Broda: Os meus clientes do exterior estão em um compasso de espera. Entendem que há boas ideias para sair da decadência nas candidaturas de Milei e de Bullrich, mas com Milei há dúvidas sobre se essas ideias perdurarão porque nem todas podem ser postas em prática — ou porque tem poucos parlamentares, ou porque dependem de mudanças legislativas complicadas, ou porque Cristina Kirchner e o peronismo vão acelerar os protestos de rua e farão muita resistência. No caso de Patricia Bullrich, ela tem a melhor equipe econômica — nos três casos, há economistas que trabalharam em minha firma e eu os conheço bem. Eu tenho a visão de que a reconquista da confiança e da credibilidade vai demorar. A credibilidade é muito difícil de alcançar só com eleições e, claramente, o ministro-candidato tem feito todo o possível para ser mais frágil e vulnerável a macroeconomia. Nós em geral nunca cumprimos os acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI). A diferença com Massa é que, agora, não só não cumprimos, como também fazemos o inverso do que o Fundo nos recomenda a fazer. Ou seja, eu nunca vi um mentiroso do nível de Massa no cargo de titular do Ministério da Economia.

Valor: O sr. acredita que a personalidade de Milei, que trabalhou em sua consultoria, é um obstáculo para a imagem dele?

Broda: Numa análise das candidaturas, a equipe de Bullrich é mais séria, mas Milei é mais inteligente do que todos eles. Há poucos dias eu falava com Pérsio Arida, que foi meu melhor aluno na Universidade de São Paulo (USP), e eu lhe disse: ‘Olhe, Pérsio: em 35 anos no Estudio Broda só tive um economista com o QI que você tinha’. Ele riu, mas eu disse que Milei é alguém muito inteligente, com alguns problemas de personalidade. Milei diz a todo mundo que se tornou economista profissional quando trabalhou aqui na empresa, mas a verdade é que a mim me custou muito… Eu lhe dava muitos papers teóricos para ele estudar. Mas me parecia que ele relutava sobre como isso servia ou podia servir para interpretar a realidade.

A previsão é de que o PIB caia 3,5% neste ano, a inflação chegue a 170% em 2023 e o déficit fiscal seja de 12%”

Valor: Como o sr. vê esses meses finais do atual governo, de Alberto Fernández?

Broda: Nós esperamos que o PIB caia este ano 3,5%, esperamos que a inflação de dezembro a dezembro seja de 170%, mas o PIB sem agro vai cair muito pouco — abaixo de 1%. Acreditamos que o governo acelerou os riscos de crise porque desvalorizamos sem programa, vamos ter 12% de inflação em agosto, o mesmo em setembro, 8% ou 9% nos meses seguintes e, em dezembro, vamos ter uma inflação maior porque ganhe quem ganhe vai ter de resolver o problema dos preços relativos [atrelados à variação do dólar paralelo] . Agora Massa resolveu atrasar o reajuste dos preços relativos com 12 % de inflação mensal, decidiu atrasar o reajuste do tipo de câmbio porque — mesmo que tenha desvalorizado — no fim de outubro o peso vai estar valendo mais do que estava na semana anterior às primárias. E por isso eu digo que em dezembro, qualquer que seja o resultado da eleição, vamos ter um golpe de altíssima inflação.

Valor: E a renegociação do acordo com o FMI?

Broda: Com Massa, não vejo como cumprir nenhuma das metas quantitativas — nem as fiscais, nem as reservas internacionais, nem a monetária —, mas menos ainda vamos cumprir as metas qualitativas, como a de intervir menos nos mercados para que o dólar não suba, não emitir para comprar títulos que o setor privado não quer manter, para que os bônus não baixem muito de preço. Ou seja, o governo acertou com o Fundo desvalorizar o câmbio oficial em 22% para depois seguir aumentando o spread com o dólar paralelo e congelar a cotação até o fim de outubro. Eu não encontro em Washington ninguém em que acredite na credibilidade de Massa. Estou seguro que ele gostaria de prosseguir fazendo política fiscal expansiva, maciças intervenções nas cotações dos dólares alternativas, porque ele acredita que pode entrar no segundo turno e, na verdade ele pode entrar.

Valor: O sr. acredita na possibilidade de Massa ser eleito?

Broda: Eu creio que ele está muito próximo de Bullrich. Esse não é hoje um cenário improvável. Faltam 40 dias para as eleições e tudo pode mudar. Hoje, eu diria que Milei tem 55% a 60% de probabilidade de ser presidente. E cerca de 20% de possibilidade de ganhar em primeiro turno. Eu vejo hoje uma probabilidade um pouco mais favorável a Massa de ir a um segundo turno — e essa não é uma boa notícia porque Massa é a combinação do populismo com muita picardia, com o que chamamos de “vivencia criolla”, e isso é lamentável para a administração da política econômica. O problema da Argentina é que nos acreditamos muito espertos, todos os dias inventamos alguma coisa para nos darmos bem. Mas a verdade é que a eleição não está decidida e vamos ter dias de campanha de muita incerteza.

Valor: Como seguiriam as negociações com o FMI com Milei?

Broda: O que temos certeza é que haverá uma nova negociação com o Fundo, ganhe quem ganhar. Será necessário restabelecer um novo programa. A equipe do FMI que negocia com a Argentina ficou bem impressionada com Milei porque Milei lhe disse que vai fazer ajustes fiscais maiores do que eles pedem. Mas há muitas dúvidas sobre como ele poderia fazer isso, sobre as condições que teria de governabilidade, mas creio que nem Bullrich nem Milei demorariam em fazer um novo programa com o Fundo. O Fundo se opôs à convertibilidade, certamente se opõe à dolarização, mas minha impressão é que esta não é uma questão para os próximos meses. Isso vai ficar para depois. O importante imediatamente é desregular, baixar impostos para atrair investimentos e, sobretudo, encontrar uma ancora fiscal, com equilíbrio fiscal, e resolver os problemas mais graves do quadro fiscal. A previsão é que o déficit fiscal termine o ano em 12% do PIB. Esse deve ser o principal obstáculo para quem assumir como presidente.

Valor: O sr. acha que o Fundo não está preocupado com a perspectiva de uma vitória de Milei?

Broda: Eu diria que o FMI estará muito, mas muito, preocupado se Massa — que perdeu toda a credibilidade — vencer as eleições. Das reuniões que tiveram com as equipes de Bullrich, de Massa e de Milei, os técnicos saíram até mais satisfeitos com Milei do que com a equipe de Patricia. E os economistas que assessoram Milei e estiveram nestas reuniões não enfatizaram a dolarização, mas a mudança da organização econômica e o ajuste fiscal. E a defesa do direito de propriedade e o papel crescente do setor privado para tirar o país da decadência. Hoje, no FMI não há nenhuma prevenção em relação a Milei. Poderá haver depois, e isso vai depender de muitos fatores. E também dependerá de Milei começar imediatamente a negociar com o FMI, porque não vai ter dinheiro para pagar as parcelas dos empréstimos já contraídos e claramente precisa fazer isso para obter credibilidade e confiança.

Valor: O sr. faz algum paralelo entre a crise de hoje e a de 2001, por exemplo?

Broda: Não vejo. É uma crise longa já. Mas esta é uma crise de desequilíbrio macro, bem diferente da crise de 2001. Em 2001 explodiu a conversibilidade. Lembremos que o dólar passou de 1 para 4 pesos. A crise atual é mais estrutural e mais duradoura — mas também é uma crise em que o peronismo está no governo. Os estímulos aos piquetes, à saída às ruas, são menores. Eu não faria um paralelo do momento atual com a saída da conversibilidade, mas é importante que tenhamos consciência de que herança de desordem macroeconômica a ser recebida pelo próximo governo será entre três a quatro vezes pior do que a que recebeu Mauricio Macri. O que quero dizer é que se trata de uma situação hoje muito complexa, mas não colocaria pelo menos até agora, no mesmo patamar do que foi a crise da saída da conversibilidade.

Valor: Há muitas preocupações com dolarização ao mesmo tempo em que há uma corrida por dólares da Argentina. Quem aceitaria pesos no dia seguinte de uma eleição de Milei?

Broda: O debate sobre dolarização desvia o foco da questão central de organização das contas. Esse debate não é prioridade. E acho que Milei está mudando. Hoje ele mesmo já fala em processo de dolarização entre 18 e 24 meses. Mas creio que as tarefas prévias a dolarizar, ou seja ordenar as variáveis macros e ter um pouco mais de dólares. Milei hoje é um caso de êxito político eleitoral por duas causas: porque falou de dolarização, que afeta diretamente à maior parta da classe média, e porque atacou a casta dos políticos. Mas hoje me surpreenderia muito se ele agisse para dolarizar a economia no primeiro dia de mandato.

Valor: E quais seriam as prioridades?

Broda: Hoje o que se percebe é que se necessitaria um ajuste fiscal de grande magnitude que permita a recuperação de equilíbrio nos preços relativos, uma desregulação e redução de impostos que travam o investimento antes que se pense em um sistema monetário que resulte na dolarização. O sistema monetário é uma questão de segundo plano. É necessário equilibrar as desordens macroeconômicas antes de pensar nisso. Pessoalmente, creio que seria mais viável passar por um processo de bimonetarismo antes de se falar em dolarização. Mas as grandes discussões estão deixando de lado a herança do desequilíbrio macro que deixa o atual governo. A dolarização é assunto para se pensar para 2026 ou além.

Valor: O sr. crê que Milei pode resgatar os dólares que os argentinos mantêm sob seus colchões? Ele terá a capacidade de persuadir os argentinos a acreditar mais em seu sistema monetário?

Broda: A Argentina tem antecedentes. E nós, economistas, também não sabemos quais são as chaves para obter confiança e credibilidade. Não vai haver nada mágico e as pessoas não vão tirar os dólares do colchão só por causa de uma vitória de Milei. Seria uma boa indicação de que haveria um novo ordenamento. Mas sempre vai haver dúvida sobre o que pode acontecer. Digo sempre que não há mágica nisso. Lembro que na época de Macri se dizia que ia chover dólares. Estamos em uma segunda tentativa, uma vez que, na primeira vez, essa tentativa falhou. Obviamente o discurso da defesa da liberdade econômica, a defesa da propriedade privada, etc. cai bem entre a população. E é um fenômeno extraordinário que Milei somente com as redes sociais e seu espaço na TV conseguiu se tornar o favorito a ser presidente, mas toda a confiança que se necessita para fazer mudanças vai demorar. Ou seja, não vejo uma situação que se marcaria a situação de uma Argentina antes e depois de Milei, mas uma lenta evolução de um processo de mudanças econômicas complexas — durante o qual se vai conquistando confiança.

Valor: Há uma esperança maior entre os argentinos de que a eleição pode reverter a situação econômica do pais?

Broda: A verdade é que eu, particularmente estava muito mais otimista há seis meses quando se viu que a aceleração da decadência causada pelo governo de Fernández e Cristina Kirchner tinha gerado uma reação da sociedade. Mas agora confesso que tenho medo de que uma oportunidade muito boa que tem a Argentina — porque o país tem a possibilidade de sair-se bem na economia da mudança climática, com o lítio, o cobre, a produção do polo de gás de Vaca Muerta. Mas somos uma máquina de perder oportunidades. Há seis meses eu diria que esta eleição seria uma eleição que terminaria com a era do populismo até ver que Milei, que tem o apoio de muita gente jovem, acabou gerando a ideia de que tudo se resolveria por magia, e sabemos que magia não existe. As pessoas devem ser críveis, dizendo o que o mercado quer escutar, mas também precisam mostrar grande capacidade de cumprir o que se diz. Acho que um governo de Milei inicialmente vai gerar muitas dúvidas sobre o que vai poder fazer e o que vai poder realizar.

Valor: As posições ideológicas de Milei são um entrave?

Broda: Sem dúvida. Milei é um bom economista profissional, mas tem uma bagagem doutrinária e ideológica, basicamente defendendo as ideias do [economista argentino] Alberto Benegas Lynch, que é seu “mentor libertário”, que claramente gera muitas dúvidas porque os presidentes precisam ter uma mente muito aberta e flexível. Alguém que enfrenta um monte de problemas por dia, que ouve os que sabem para depois decidir. E em muitos pontos a ideologia anarcocapitalista de Milei faz com que antes do problema ele já tenha a solução. Isso pode ser uma trava. A ideologia e a doutrina de Milei são um grande problema.

Valor: Como o sr. vê, por exemplo, as declarações de Milei de que romperia relações comerciais com a China?

Broda: São extremamente simplistas. Assim como dizer “não vou entrar no Brics porque são comunistas”. Argentina necessita como país pobre manter-se em equilíbrio com várias partes. Não digo ser como Lula [o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva], que endossa tudo o que vem de Pequim, mas manter equilíbrio nas relações com a China, que pode nos financiar. Por exemplo, a oposição Argentina — tanto Bullrich quanto Milei — disseram que não vão entrar no Brics. E os EUA não pediram nada. Não disseram “Argentina, não entre no Brics”. E entraram Egito e um monte de países que têm boas relações com os EUA. É um horror que Milei diga “não quero saber dos Brics porque são comunistas”. Dadas a pobreza e a decadência da Argentina, que é um país ocidental, o país manter relações com as demais potências é positivo. Não estou dizendo que a política exterior de Lula no Brasil é a melhor. O que estou dizendo é que o interesse argentino hoje é sair da decadência. Se há financiamento na China, ou se há possibilidade para vender-lhes bens ou commodities, a Argentina tem de procurar, sem nenhum condimento ideológico, comerciar com qualquer país que pense diferente. A necessidade tem cara de herege. É um erro a posição de Milei. Creio que, se for eleito, será mais pragmático.

Valor: Bullrich seria o caminho do meio, então?

Broda: Bullrich tem a melhor equipe econômica sem nenhuma dúvida. Mas recebeu um choque nas primárias. A Argentina é imprevisível. Há dois anos, Horacio Rodríguez Larreta [prefeito de Buenos Aires que perdeu as primárias da aliança opositora de centro-direita para Bullrich] seria o próximo presidente. Há um ano e meio, qualquer que ganhasse a primária do Juntos por el Cambio, seria o presidente. E isso não está ocorrendo de verdade. Bullrich está rearmando sua estratégia para ver se pode pelo menos entrar no segundo turno. Mas, com isso, perdeu mais de 15 dias de campanha. A verdade é que uma centro-direita como a de Bullrich seria muito melhor do que um salto no vazio com Milei. Mas hoje ela tem muito menos possibilidade de ser presidente do que Milei.

Valor: Em quando tempo pais pode superar sua crise?

Broda: Creio que o novo regime, vença Bullrich ou Milei, com uma nova organização econômica, será perceptível a partir de 2025. Mas se tudo se normalizar na argentina em termos de estabilidade macro, etc. vai levar algo como duas décadas. Digo, ser como Colômbia, como Bolívia, como Paraguai, como Chile e como Uruguai. Vai custar muito, com necessidade de muita institucionalidade, regras, etc., que não são fáceis de obter. Eu digo que não vou ver o “milagre argentino”, mas esperemos que ocorra.

Valor: Como está o setor privado argentino? Ele está sólido e pronto para uma nova fase da economia argentina?

Broda: É um setor que mesmo hoje tem ganhado muito dinheiro — e que tem tentado mandar para o exterior, mas os cepos e os controles de capital têm restringido. O setor privado da Argentina, como em alguns casos que ocorrem no Brasil, é um setor fechado da economia, que permite a formação de muitos oligopólios que ganham muito dinheiro. Não estão endividados, por uma razão simples: Argentina não tem crédito, não tem acesso. Para ter uma ideia o total de créditos do sistema bancário argentino é de 7% do PIB. O da China é de 250% e o do Chile, 65%. Uma das grandes razões para levar os indicadores macroeconômicos da Argentina de volta à normalidade e à estabilidade é que isso nos permitiria oferecer créditos às empresas médias e pequenas como fazem todos os bancos da América Latina.

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