Os preços do petróleo dão prosseguimento à escalada recente e o barril do Brent já ultrapassa US$ 95 e opera nas máximas do ano. Diante das restrições no lado da oferta e de uma demanda ainda forte, apoiada pela resiliência da atividade econômica global, o rali do petróleo impede um alívio mais intenso nos juros globais, na medida em que os participantes do mercado veem potenciais efeitos inflacionários e, assim, projetam a manutenção de uma política monetária apertada nas principais economias, o que tem reflexo nos mercados emergentes. No Brasil, porém, o petróleo tem dado algum apoio aos ativos.
Não somente o petróleo, mas os preços elevados das commodities em geral têm ajudado o real a se recuperar, após a moeda brasileira ter sido penalizada em agosto. O cenário favorável de termos de troca somado a um ambiente positivo de contas externas ajuda a apoiar o câmbio doméstico, que ontem voltou a testar níveis inferiores a R$ 4,85 por dólar. Com a nova rodada de alta dos preços do petróleo, é possível que o câmbio seja favorecido adicionalmente, em um dia no qual o dólar não exibe sinal único nem contra moedas de mercados desenvolvidos nem em relação às divisas emergentes.
O câmbio em níveis mais apreciados ajuda a contrabalançar o potencial efeito inflacionário dos petróleo em alta, o que impede movimentos mais acentuados na curva de juros doméstica. Ontem, as taxas futuras exibiram alta leve, especialmente no “miolo” da curva, em um movimento acompanhado por uma realização de lucros nos juros reais medidos pelas NTN-Bs, o que contribuiu para uma queda da inflação “implícita” ao longo de toda a curva. A inflação precificada pela NTN-B com vencimento em maio de 2025, por exemplo, caiu de 4,58% para 4,53%.
“O que me parece é que a divulgação benigna do IPCA [na semana passada] desencadeou algum ‘stop-loss’ no segmento curto das NTN-Bs”, observa o trader de renda fixa de um grande banco local, ao observar a queda da inflação implícita. Para ele, esse movimento de alívio das expectativas de inflação no Focus e nos preços de mercado, em algum momento, pode ajudar o Banco Central a acelerar o ritmo de cortes de juros. O mercado, no momento, começa a atribuir alguma probabilidade maior desse movimento acontecer em dezembro, na medida em que o horizonte relevante da política monetária começa a abarcar com mais força o ano-calendário de 2025.
Para a reunião desta semana, porém, continuam as expectativas de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC deve manter um comunicado “protocolar”, após ter conseguido ancorar as expectativas dos agentes em torno de uma nova redução de 0,5 ponto percentual na Selic. E, com a previsibilidade maior no campo monetário, os olhos dos agentes continuam voltados à política fiscal, na medida em que o governo busca aprovar suas matérias no Congresso Nacional, embora nesta semana esse assunto esteja em segundo plano, já que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estão em Nova York para a abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, às 9h40.
Os preços do petróleo, porém, podem gerar algum alívio na percepção de risco fiscal, o que ajudaria a ancorar a ponta longa da curva de juros doméstica, em um dia no qual os rendimentos dos Treasuries de longo prazo se ajustam em leve queda. Esse sentimento, inclusive, também pode apoiar a bolsa local, em uma sessão na qual se desenha alguma valorização de ativos de risco no exterior. Por volta de 8h, os futuros dos principais indicadores acionários americanos operavam em alta.
Assim, com poucas novidades no exterior, com os agentes no aguardo, com ansiedade, da decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed) amanhã, os assuntos domésticos ajudam a modular os movimentos dos ativos locais. Cabe apontar, ainda, que o desempenho da atividade econômica também entra na equação, uma vez que uma nova surpresa altista relevante no IBC-Br de julho pode apoiar a visão de um crescimento econômico mais fortes em um momento no qual a desinflação de preços mais inerciais (serviços) continua em vigor, o que pode gerar, novamente, a sensação de uma economia brasileira em “Goldilocks” e apoiar os ativos domésticos.