Ameaças, embaixada atacada e mísseis lançados: o que está acontecendo entre Irã e Israel | Mundo – Finanças Global On

Ameaças, embaixada atacada e mísseis lançados: o que está acontecendo entre Irã e Israel | Mundo

Neste sábado (13), pela primeira vez, o Irã realizou um ataque armado direto ao território de Israel. Mísseis e drones foram enviados em retaliação a uma ofensiva aérea israelense à embaixada de Teerã em Damasco, na Síria, que aconteceu no início do mês.

No contexto da guerra travada entre Israel e o Hamas, em primeiro de abril, um ataque aéreo na capital da Síria, Damasco, destruiu parte da embaixada do Irã no país. A ofensiva foi atribuída ao exército israelense, que não admitiu ter lançado o ataque. Na ocasião, sete oficiais foram mortos, incluindo dois generais da Guarda Revolucionária, força de elite do Irã.

Esse ataque aumentou ainda mais a tensão no Oriente Médio. Após sucessivas ameaças de bombardeio pelo líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, o ataque foi lançado, com milhares de drones e mísseis disparados contra ao território israelense.

O governo israelense disse que 99% dos ataques foram interceptados pelo Domo de Ferro — sistema de defesa militar do país. O ataque não causou mortes. Doze pessoas foram levadas ao centro médico Soroka, no sul de Israel, durante a noite.

Irã lançou drones e mísseis em direção ao território israelense neste fim de semana — Foto: AP Photo/Tomer Neuberg, File
Irã lançou drones e mísseis em direção ao território israelense neste fim de semana — Foto: AP Photo/Tomer Neuberg, File

O gabinete de guerra de Israel se reuniu pela segunda vez desde o ataque, nesta segunda-feira (15), para discutir como responder à ofensiva iraniana. O grupo é composto por Netanyahu, o ministro da Defesa do país, Yoav Gallant, e o opositor Benny Gantz, nomeado ministro de Guerra israelense.

O governo está dividido e líderes mundiais pedem moderação na resposta.

Gantz afirmou, no domingo, que o país irá “cobrar o preço devido da maneira e no momento que for conveniente a Israel”. O ministro ainda disse que o Irã “encontrou a força do sistema de segurança israelense”, ao referir-se ao Domo de Ferro.

Do outro lado, o Irã afirmou que atacará novamente e com maior força se Israel ou o seu maior aliado, os Estados Unidos, retaliarem o ataque de sábado, disse o chefe das Forças Armadas do Irã, general Mohammad Bagheri, à TV estatal do país.

Quem são os aliados de Israel?

Candidato à reeleição em novembro e muito criticado pela comunidade árabe-americana por supostamente apoiar Israel na guerra contra o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, teria advertido ao premiê israelense, Benjamin Netanyahu, que Washington não participará de nenhuma ação ofensiva contra o Irã, segundo reportou a TV “CNN” americana. Biden teria, inclusive, tentado dissuadir Netanyahu de uma nova retaliação em uma ligação telefônica de 25 minutos, conforme o “The Guardian”.

Além dos EUA, o professor de Relações Internacionais da PUC-SP Rodrigo Amaral explica que Israel não tem outros aliados diretos para o conflito, mas que os americanos poderiam, caso tivessem interesse, influenciar outros países a entrarem na guerra, como os integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a aliança militar ocidental formada por 32 países no total.

Esses laços, porém, são regidos pelos EUA, segundo o professor. “Esses atores internacionais não têm essa relação [de aliança militar] com Israel”, diz Amaral, que também é membro da British Society for Middle East Studies (BRISMES).

A Otan, porém, condenou o ataque em declaração publicada na rede X (ex-Twitter) e pediu que ambos os lados ajam com moderação. “Condenamos a escalada [de violência] da noite para o dia do Irã, apelamos à moderação e estamos acompanhando de perto a evolução da situação. É vital que o conflito no Oriente Médio não saia de controle”.

Quem são os aliados do Irã?

Amaral explica que o Irã, hoje, não tem países aliados que entrariam no conflito apenas em razão de laços militares comuns. Por outro lado, grupos políticos como o libanês Hezbollah, o palestino Hamas e os rebeldes houthis do Iêmen, por exemplo, tomariam parte na guerra ao lado de Teerã.

“O grande ponto de interrogação sobre esse conflito é em que medida os países árabes vão se envolver, considerando que o Iraque e a Arábia Saudita têm questões contra o Irã, mas também há dificuldades de se aliar a Israel por conta da questão da Palestina”, disse.

Um membro da Guarda Revolucionária monta guarda durante uma reunião anti-israelense na praça Felestin (Palestina) — Foto: AP Photo/Vahid Salemi
Um membro da Guarda Revolucionária monta guarda durante uma reunião anti-israelense na praça Felestin (Palestina) — Foto: AP Photo/Vahid Salemi

Além disso, Amaral explica que essa relação do Irã com os grupos políticos se dá pela história revolucionária do país, que é tida como um “caso de sucesso”.

“O Irã teve uma revolução islâmica em 1979, de muçulmanos xiitas, que gerou sua inimizade com os Estados Unidos [apoiadores do regime secular sucedido pelos revolucionários]. Dessa forma, há uma relação ideológica desses grupos políticos, que veem o país quase como um case de sucesso”, explicou Amaral. “O Irã não invade territórios desde os anos 80. Eles se aproximam de grupos políticos, como Hamas e Hezbollah”, diz o professor. Esses grupos defendem interesses iranianos em troca de armas e outros recursos.

Posicionamento do Itamaraty

O Brasil, pelo Itamaraty, disse em nota que está acompanhando “com grave preocupação os relatos de envio de drones e mísseis do Irã em direção a Israel, deixando em alerta países vizinhos como Jordânia e Síria”.

Além disso, o Ministério de Relações Exteriores (MRE) pontuou que, desde o início do conflito em curso na Faixa de Gaza, “o governo brasileiro vem alertando sobre o potencial destrutivo do alastramento das hostilidades à Cisjordânia e para outros países, como Líbano, Síria, Iêmen e, agora, o Irã”.

Em vista dos últimos acontecimentos no Oriente Médio, o Itamaraty também orienta os brasileiros que evitem viagens não essenciais à região, em particular a Israel, Palestina, Líbano, Síria, Jordânia, Iraque e Irã.

*Estagiário sob a supervisão de Diogo Max

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