Custos e demanda aquecida aumentam preços de ingressos de festivais de música | Empresas – Finanças Global On

Custos e demanda aquecida aumentam preços de ingressos de festivais de música | Empresas

Os brasileiros, depois de passar pela fase mais dura da pandemia, voltaram no ano passado, e neste ano também, a frequentar grandes eventos como festivais de música. Mas os preços dos shows estão salgados. Aumento dos custos com infraestrutura, o dólar mais caro em relação ao real, que acaba encarecendo a contratação de artistas estrangeiros, e a demanda aquecida fazem os ingressos estarem bem mais caros que no período pré-pandemia.

Pesquisa feita pelo Valor mostra que o consumidor pagou R$ 525 para passar um dia no Rock in Rio em 2019, assistindo a shows no gramado. Neste ano de 2024, esse ingresso subiu para R$ 755 — uma alta de 43,8%. Um dia no Lollapalooza aumentou 37,5% no mesmo período, indo de R$ 800 para R$ 1.100.

Em 2023 o ticket médio pago por ingressos de festivais de música foi de R$ 329, segundo o levantamento feito pelo Mapa dos Festivais. Foram analisados 298 eventos. O Lollapalooza Brasil apresentou o ingresso médio mais caro na casa dos R$ 3 mil.

Com mais de 20 anos de experiência no mercado de entretenimento, o sócio-fundador do show João Rock, Luit Marques, diz que as expectativas do público mudaram. As pessoas não vão aos festivais apenas para ouvir música. Querem se divertir durante os intervalos, comer alguma coisa, descansar. Isso exige ampliar a infraesttutura e abre oportunidade de ações de marketing para empresas de diferentes setores .

“A infraestrutura é o maior investimento do festival e toma mais de 50% da formação do ticket do João Rock. A mistura de música e entretenimento faz com que você tenha que ampliar a qualidade sonora e a infraestrutura o que leva a um encarecimento”, explica Luit. O João Rock será realizado neste ano em 8 de junho em Ribeirão Preto (SP).

A maior parte da infraestrutura, como instrumentos musicais e equipamentos de transmissão de som, é alugada de empresas de eventos sediadas no exterior. Cobram em dólar. Soma-se a isso que parte das empresas fornecedoras fechou as portas durante a pandemia, o que deixou o segmento mais restrito e diminuiu a oferta. Isso também aumentou os valores cobrados pelo aluguel do material.

O presidente da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape), Doreni Caramori Júnior, observa que o público brasileiro demanda artistas internacionais, com cachês cobrados em dólar ou euro. Isso também faz o ingresso ficar mais salgado. O cenário de incertezas econômicas e políticas no exterior, e o interesse de fazer o negócio crescer, leva artistas internacionais a considerarem o Brasil como um ponto de parada em suas turnês, diz Caramori.

O analista do setor cultural na Fundação Getúlio Vargas, Léo Morel, lembra que o Brasil começou a receber festivais e artistas internacionais em maior peso a partir dos anos seguintes à crise econômica global de 2008, desencadeado nos Estados Unidos com a falência do banco Lehman Brothers. O Brasil, então, apresentava mais receptividade, interesse em consumir esse tipo de evento e uma situação econômica equilibrada.

“O Brasil tem uma ligação muito forte com a música. Consumimos repertórios nacionais e internacionais. Temos grandes centros urbanos e pessoas dispostas a gastar dinheiro para assistir a festivais. Porém vale lembrar que passamos a ser uma capital do showbusiness a partir do Rock in Rio, em 1985”, diz Morel.

O analista da FGV sublinha que os preços dos ingressos são altos, mas há público disposto a pagar. Lembra que há shows cujos ingressos se esgotam logo após a abertura das vendas. A alta demanda por espetáculos também gera um aumento dos preços dos ingressos, diz o presidente da Abrape.

Em 2023, a primeira edição do The Town chegou à marca de 500 mil pessoas em cinco dias de festival, enquanto o Lollapalooza, no mesmo ano, atingiu público de 300 mil pessoas em três dias de apresentações.

O sócio-fundador do Coala, Gui Marconi, defende uma “curadoria inteligente” ao selecionar atrações nacionais, abrindo não, por vezes, de um único artista “âncora”. Fechar contratos de longo prazo com fornecedores de infraestrutura e equipamentos também ajuda, além de, claro, atrair patrocinadores. Isso, diz ele, abre a possibilidade de oferecer ingressos mais acessíveis. O festival do Coala, a ser realizado na cidade de São Paulo, está marcado para 6, 7 e 8 de setembro.

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