Juros futuros têm alta expressiva com ambiente global e alteração nas metas fiscais | Finanças – Finanças Global On

Juros futuros têm alta expressiva com ambiente global e alteração nas metas fiscais | Finanças

Os juros futuros encerraram o pregão desta segunda-feira (15) em alta forte ao longo de toda a curva, em um novo dia de estresse elevado no mercado doméstico.

Para além de um ambiente externo bastante conturbado, com riscos geopolíticos e dados de atividade nos Estados Unidos que esfriaram ainda mais as perspectivas para os cortes de juros no país, os agentes voltaram a exibir desconforto com o anúncio de alteração nas metas fiscais para os próximos anos, embutindo ainda mais prêmios de risco nos juros locais.

Neste contexto, as taxas futuras dispararam mais de 20 pontos-base em vértices intermediários e longos, marcando novas máximas em 2024.

No fim do dia, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 passou de 10,065% do ajuste anterior para 10,16%; a do DI para janeiro de 2026 subiu de 10,215% para 10,44%; a do DI para janeiro de 2027 avançou de 10,53% para 10,805%; e a do DI para janeiro de 2029 saltou de 11,08% para 11,35%.

Após um fim de semana de tensão elevada no Oriente Médio, com os ataques do Irã a Israel, agentes financeiros seguem monitorando uma possível retaliação israelense e uma escalada do conflito. No entanto, a avaliação de curto prazo é a de que uma resposta de Israel de grandes proporções não deve ocorrer, e, assim, os juros dos títulos do Tesouro americano (Treasuries) voltaram a subir.

Além disso, as vendas no varejo nos Estados Unidos subiram 0,7% em março, frente às expectativas dos analistas de uma alta de 0,3%. O dado voltou a evidenciar a força da economia americana e reforçou o sentimento de que os juros no país não devem cair tão cedo.

Como resultado, os juros dos títulos do Tesouro dos EUA subiram e impuseram um viés de alta às demais curvas de juros globais. Perto do horário de fechamento no Brasil, o rendimento da T-note de 2 anos subia de 4,914% para 4,925%, enquanto a taxa da T-note de 10 anos saltou de 4,532% para 4,608% — nas máximas do dia, foi a 4,667%

No entanto, o forte estresse no mercado de juros não se deu apenas por componentes externos. Desde o início do dia, circularam informações de que o governo reduziria a meta fiscal de 2025 de um superávit de 0,5% do PIB em 2025 para zero. A informação foi confirmada, mais tarde, e voltou a ampliar a desconfiança dos agentes com a trajetória da dívida pública brasileira.

De acordo com o estrategista-chefe da BGC Liquidez, Daniel Cunha, o início do segundo trimestre vem sendo marcado pela continuidade da reversão nas apostas otimistas relacionadas à flexibilização da política monetária americana — tanto do ponto de vista do momento, quanto da magnitude. “Pouquíssimo tempo atrás o mercado estava precificando 6 cortes, com início em março e está, agora, mal precificando 2 cortes começando em setembro. É uma mudança muito drástica na precificação do principal ativo do mundo”, aponta.

No Brasil, ele chama a atenção para o ambiente macro que também se mostra desafiador, com sinais de reaceleração da economia em um momento em que o mercado de trabalho se mostra apertado. “E uma política fiscal cada vez menos crível. Isso também acaba entrando na conta. O BC está entrando em seus capítulos finais do afrouxamento monetário, e o ambiente global e local suscitam uma discussão sobre até onde conseguiria ir a Selic, em um momento de reprecificação expressiva dos Fed Funds. E notícias sobre temas fiscais acabam fazendo o mercado ficar mais sensível”, aponta.

Cunha afirma que a economia e os mercados americanos têm funcionando como “aspiradores” de dólares em meio ao ritmo forte da atividade, juros elevados e alta necessidade de financiamento do governo americano. “Enfraquece qualquer tese de mercado emergente, a não ser aqueles que possuem alguma narrativa positiva, como o México. O Brasil não oferece nada em termos idiossincráticos e quando pensamos em commodities, principal apelo do mercado local, o cenário ainda é misto”, afirma.

Neste contexto, acaba prevalecendo, segundo Cunha, “a metade vazia do copo”. “Nossa perspectiva para o fiscal não é sustentável. O país anunciou um novo regime fiscal, mas basicamente no primeiro ano já vimos inúmeros ataques, críticas e flexibilizações. O principal trunfo de um regime é a previsibilidade e a confiabilidade, e o atual regime não está conseguindo entregar nada disso. Demanda maior ceticismo, maior prêmio de risco e os ativos brasileiros acabam sendo mais penalizados que os pares”, aponta.

 — Foto: Karolina Grabowska/Pexels
— Foto: Karolina Grabowska/Pexels

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