Novo mapa-múndi do IBGE com Brasil no centro da Terra volta a ser vendido por R$ 10 | Brasil – Finanças Global On

Novo mapa-múndi do IBGE com Brasil no centro da Terra volta a ser vendido por R$ 10 | Brasil

A nova projeção, que integra a 9ª edição do Atlas Geográfico Escolar, foi alvo de polêmica nas redes sociais pela mudança em relação aos modelos comumente usados nas escolas brasileiras, com a Europa no centro.

O mapa-múndi com o Brasil no centro do mundo foi colocado à venda por R$ 10 na loja virtual do IBGE. O modelo disponível em tamanho A3, com medida 43 x 30 cm.

A representação pouco usual foi divulgada na última semana pelo instituto. Na rede social X (ex-Twitter), o presidente do instituto comentou o lançamento. “A emergência do Sul Global acompanha o reposicionamento do Brasil no mapa-múndi”, escreveu.

A divulgação provocou polêmica nas redes sociais, atraindo críticas e elogios dos usuários nos comentários da publicação. Isso porque a projeção cartográfica é diferente das trazidas em anos anteriores e daquelas vistas nas escolas brasileiras, em que posiciona o Brasil à esquerda do mapa.

Ao Valor, a coordenadora da área que produziu o Atlas, Maria do Carmo Bueno, disse que a polêmica pegou o instituto de surpresa. “Essa configuração que coloca o Brasil no centro temos em nossos atlas desde 2006”, diz. “Não é novidade e outros países já fazem isso, como Austrália, Japão e China”, completa.

A novidade, portanto, seria o destaque dado ao mapa — não a existência dele. Nos anos anteriores, a representação dos continentes colocando a América do Sul no centro do mapa estava inserida dentro do Atlas, produzido anualmente. “É novidade porque a gente separou e deu destaque a isso.”

Segundo o IBGE disse em comunicado, a centralização no mapa-múndi lançado ocorre em consonância com o momento em que o país está presidindo o G20 — grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo, além da União Africana e a União Europeia.

“Nosso objetivo é uma questão didática, de colocar uma visão diferente em relação aos outros países e isso ser explorado pelos professores. O mundo é redondo. Podemos colocar no centro quem quisermos, e isso não altera a ordem”, diz Maria.

A repercussão nas redes sociais trouxe, também, dezenas de pedidos para que o mapa fosse colocado à venda. “Foram mais de 2 mil pedidos [nas primeiras horas, até 10h desta terça-feira], isso nunca aconteceu antes. Estamos tentando gerenciar essa demanda”, diz Maria do Rosário.

Ela conta que, no mês que vem, novos tamanhos do mapa devem ser colocados à venda na loja do IBGE: A1 e A0, o tamanho original.

Brasil no centro do mundo

Mara Lúcia Marques, cartografa e professora da Faculdade de Geografia na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), aponta que a discussão em torno da representação dos países nos mapas é um tema presente no meio acadêmico. Mais do que a questão geográfica, o debate, ressalta a docente, traz à tona a revisão histórica da cartografia.

“Os europeus, no desenvolvimento da civilização Ocidental — que era o mundo conhecido — fizeram a expansão das colônias. Então, foram mapeando [esses territórios] a partir do ponto de vista da Europa. A partir disso, os mapas, e toda a cartografia, foram desenvolvidos [com essa representação]. Como a educação era centrada no conhecimento europeu, os mapas permaneceram mostrando essa dinâmica”, explicou ao Valor.

A docente destaca que a representação varia de acordo com a perspectiva de cada país. “Existem mapas dos Estados Unidos que colocam a América [do Norte] no centro. Já a China, que tinha sua evolução histórica em paralelo no Oriente, também tinha o ponto de vista a partir do território conhecido e desenvolvido por eles. Então, os mapas são centralizados a partir do domínio territorial, do conhecimento daquelas áreas”, afirmou.

Mapa mostra a China no centro do mundo — Foto: Reprodução
Mapa mostra a China no centro do mundo — Foto: Reprodução

O mesmo vale para o Brasil, aponta Mara Lúcia. “Para os brasileiros, [o mapa parte do ponto de vista do Brasil], com a sua localização e a posição mundial em relação à questão geográfica. É uma discussão que reacende o debate sobre não se ver apenas de um ponto de vista. A cartografia tem a possibilidade de trazer discussões de perspectivas, de visualização do território, dependendo da sua ocupação, geopolítica, do país que está inserida”.

Além disso, justamente por conta da mudança de perspectiva, o mapa-múndi proposto pelo IBGE, quando comparado à representação clássica, pode causar estranheza por conta do espaçamento entre os continentes. A professora explica que isso é causado por conta do reposicionamento dos países e, consequentemente, dos oceanos. No novo mapa brasileiro, por exemplo, o Oceano Pacífico — o maior do planeta — ganha maior dimensão que o Atlântico, que banha a costa brasileira.

*Estagiária sob supervisão de Diogo Max

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