‘Mercado ficou mais preocupado com o fiscal’, diz presidente do BC | Finanças – Finanças Global On

‘Mercado ficou mais preocupado com o fiscal’, diz presidente do BC | Finanças

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, ressaltou que não há ligação mecânica entre a política fiscal e a política monetária, mas “a evidência que tivemos do que aconteceu nos últimos dias nos contou que o mercado ficou mais preocupado com o fiscal”. Campos Neto palestrou em evento promovido pela XP Investimentos em Washington nesta quarta-feira.

Segundo Campos Neto, essa situação “pode mudar as expectativas do que o equilíbrio fiscal será no futuro e pode ter um efeito no prêmio de risco e também faz o trabalho nos termos da política monetária mais difícil e custoso”.

O presidente do BC ressaltou que a reação do mercado implica que parte da revisão vem do fiscal, mas uma parte “bem maior” vem do cenário externo. “Mostra que pode ter algum questionamento à credibilidade em geral, mas para nós não é mecânico, precisamos saber o que é importante em termos da nossa função de reação”.

Campos Neto ressaltou que o Banco Central tem um mandato claro de fazer o que for necessário para cumprir a meta de inflação.

O presidente do BC disse que é possível ter um cenário em que a incerteza piora e cria um estresse global em que a autarquia precisará mudar seu cenário base da economia. Campos Neto citou essa como uma das possibilidades do que pode acontecer daqui para a frente, durante evento em Washington, nos Estados Unidos.

Ele fez um histórico sobre o andamento da política monetária recente no Brasil, com o “forward guidance” e a retirada dessa sinalização posteriormente, e citou quatro cenários do que pode acontecer daqui para a frente. No primeiro, haveria uma redução de incerteza, o que significa que seguiria o “caminho usual”.

No segundo cenário, a incerteza continuaria muito alta, mas não muda significativamente, o que poderia significar uma redução no ritmo da política monetária. No terceiro, a incerteza começaria a afetar mais “fortemente” variáveis importantes e seria necessário falar sobre mudar o balanço de riscos e o quarto cenário, seria em que a incerteza piora e criar estresse global, o que teria mudança no cenário base do BC.

Campos Neto ressaltou que a âncora fiscal e âncora monetária estão muito relacionadas e, se houver perda de credibilidade. ou “se vai para mais questionamento sobre a âncora fiscal, então torna caro do outro lado”. O presidente do BC ressaltou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já disse várias vezes que essas coisas estão relacionadas.

O presidente do BC afirmou que sempre defendeu o fato de que a meta (fiscal) deveria ser mantida e seria necessário fazer o necessário para a atingir e que “nós entendemos que teve uma necessidade de mudar”.

O governo revisou a meta fiscal de 2025 para déficit zero. “Não é para comentar tanto sobre o fiscal, mas para tentar ver como isso vai influenciar nossa função de reação por meio das várias medidas que são importantes para nós”, disse.

Campos Neto disse que a história mudou recente nos números fiscais, que houve a revisão e pontuou que “é verdade que a revisão fiscal foi na direção de algo que o mercado estava esperando em alguma extensão”

O presidente do BC também afirmou que há novas incertezas e recentemente parte disso tem sido relacionado a uma reprecificação das condições globais, “acredito que grande parte é uma história global”. De acordo com Campos Neto, há também uma história local de alta no prêmio de risco com muitos fatores, como a reprecificação do fiscal.

No evento promovido pela XP em Washington, Campos Neto ressaltou que a história tem sido “muito boa” sobre a atividade econômica no Brasil. O presidente do BC pontuou que “as pessoas estão convergindo, no primeiro trimestre, para algo como 0,5% e 0,8%. Nesse cenário, na análise de Campos Neto, se não acontecer nada muito diferente no segundo semestre, será difícil ver crescimento menor que 2% no ano.

Campos Neto também apontou que quando se olha para uma perspectiva de mais longo prazo, se vê as taxas de juros reais estão convergindo para um número baixo. Para BC, as pessoas olham muito a taxa real, mas o que é importante é a diferença de taxa real e taxa neutra.

Campos Neto também afirmou que, toda vez que um guidance (projeção) precisa mudar, é um problema de credibilidade, mas que “todo guidance vem com um aviso”. Campos Neto afirmou que o aviso significa que se a situação mudar muito, “podemos avaliar” e que isso está escrito na mensagem, “não é nada novo”, disse.

No último comunicado do Copom, em que o BC sinalizou um novo corte de 0,5 ponto percentual na próxima reunião, há um aviso de que “em se confirmando o cenário esperado”, os membros do comitê anteveem redução de 0,5 p.p.

Campos Neto ressaltou que será necessário ver como as variáveis vão se comportar até a próxima reunião do Copom, marcada para os dias 7 e 8 de maio, e que o BC não tem medo de fazer o que é necessário e “temos tentado mostrar isso ao mercado e se necessário, vamos mostrar novamente e novamente”.

O presidente do BC também apontou que agora há um processo de “sedimentação ou a realização em termos de preços” e ressaltou que a parte mais importante é a externa e será necessário ver “qual extensão os mercados vão reagir e o que vai influenciar o que é importante para nós”.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto — Foto: Billy Boss/Câmara dos Deputados
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto — Foto: Billy Boss/Câmara dos Deputados

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