Ativos brasileiros sofrem com alta dos juros longos nos EUA | Banco Master – Finanças Global On

Ativos brasileiros sofrem com alta dos juros longos nos EUA | Banco Master

Artigo assinado por Paulo Gala*

O índice Ibovespa registrou a pior sequência de quedas consecutivas desde 1970, estabelecendo um novo recorde. No entanto, é importante observar que essas quedas têm sido relativamente pequenas, situando-se em torno de 0,50% por dia. Estão longe das quedas mais acentuadas que caracterizaram grandes crises anteriores que chegavam a acumular perdas de mais de 20%.

O dólar se valorizou em relação ao real e voltou para a casa dos R$ 5. Esse movimento recente levou a uma valorização de 5% da moeda americana em relação à brasileira ao longo do mês. As taxas de juros de prazo mais longo atingiram 11%, refletindo um cenário de aversão ao risco e um movimento de venda dos ativos do “Kit Brasil” (real, Bolsa e juros). Esse movimento é caracterizado pela queda da Bolsa, pela desvalorização da moeda brasileira e pelo aumento das taxas de juros de longo prazo.

Parte desse cenário é influenciada pelo atraso na votação das medidas fiscais em discussão no Congresso. No entanto, é importante ressaltar que parte significativa da explicação reside no contexto internacional. Moedas emergentes têm enfrentado desvalorizações em relação ao dólar, não apenas o real brasileiro. O peso chileno, por exemplo, caiu mais de 5% nos últimos 30 dias, e outras moedas como o rand sul-africano, o won coreano e o peso filipino também estão se desvalorizando. O fortalecimento do dólar reflete uma demanda global pela moeda americana, influenciada por indicadores econômicos robustos dos Estados Unidos.

A produção industrial nos EUA registrou um aumento de 1% em julho, superando as expectativas. Além disso, o setor varejista também apresentou um crescimento significativo de 0,7% no mesmo mês.

Há especulações sobre um possível crescimento de 5% no PIB americano no terceiro trimestre, embora isso ainda esteja sujeito a incertezas. As políticas de redução do balanço do Federal Reserve (Fed) em quase US$ 1 trilhão também têm impacto nas taxas de juros de longo prazo. Ao retirar-se do mercado de títulos de longo prazo, o Fed provoca uma pressão que eleva as taxas de juros.

O déficit primário dos Estados Unidos, projetado para ultrapassar US$ 2 trilhões este ano, também contribui para esse cenário de pressão sobre as taxas. A ata recente do Federal Open Market Committee (FOMC) também trouxe uma postura mais rígida por parte dos diretores do Fed, sem afirmar explicitamente o término do ciclo de elevação das taxas de juros.

Isso adiciona uma dose de incerteza ao mercado, que está dividido quanto à possibilidade de mais uma alta nas taxas na próxima reunião em setembro. Os juros de dez anos nos EUA foram para as máximas desde 2008, tocando os 4,30%. As Bolsas sofrem uma correção de 5% por lá, e os juros de hipotecas e de títulos públicos de 30 anos também estão em máximas de uma década.

A situação dos ativos brasileiros é impactada por esses fatores internacionais, resultando em queda da Bolsa, desvalorização do real e aumento das taxas de juros de longo prazo. A China também continua a ser uma preocupação, com sinais de desaceleração econômica, notícias negativas no setor imobiliário e questões relacionadas a dívidas públicas e privadas.

No Brasil, o Índice Geral de Preços da FGV (IGP-10) registrou mais uma deflação de 0,13% e começa já a captar o impacto da desvalorização do real nos preços internos. Há uma virada nos preços de commodities em reais, como o da soja, que subiu quase 6% na última medição do IGP.

A tendência é que a moeda brasileira se valorize no médio prazo à medida que as tensões internacionais se acalmem, mas, por ora, o efeito deflacionário da apreciação da moeda brasileira e a queda de preços de commodities estão passando.

  • Ibovespa registra pior sequência de quedas consecutivas desde 1970, quebrando recorde
  • Dólar se valoriza, atingindo R$ 5, com aumento de 5% no mês
  • Taxas de juros de longo prazo no Brasil atingem 11%, indicando aversão ao risco e movimento de venda de ativos do “Kit Brasil”
  • Moedas emergentes se desvalorizam, incluindo peso chileno, rand sul-africano, won coreano e peso filipino
  • Fortalecimento do dólar reflete demanda global, impulsionado por indicadores econômicos fortes nos EUA, redução do balanço do Fed e ata recente do FOMC, que indica possível alta de juros
  • Preocupações com China continuam com sinais de desaceleração econômica e problemas no setor imobiliário

* Economista-chefe do Banco Master de Investimento. Graduado em Economia pela FEA USP, Gala é mestre e doutor em Economia pela Fundação Getulio Vargas de São Paulo, instituição em que leciona desde 2002 e na qual foi coordenador do Mestrado Profissional em Economia e Finanças, entre 2008 e 2010. Foi pesquisador visitante nas universidades de Cambridge (RU) e Columbia (NY) e atuou como economista-chefe, gestor de fundos e CEO em instituições do mercado financeiro em São Paulo.

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