O Ministério da Saúde começa a distribuir, nesta semana, a vacina contra a dengue na rede pública de saúde. Nessa primeira fase do programa, foram selecionados 521 municípios do país, escolhidos devido à alta incidência da doença.
Em janeiro, foram registrados no país 243,7 mil casos de dengue, ou seja, 3,7 vezes a mais quando comparado ao mesmo período de 2023. Essa forte expansão tem relação com o aquecimento global.
“Sempre temos períodos de chuva e El Nino, que contribuem para o aumento do mosquito. O que temos de diferente agora é o aquecimento global que está contribuindo para essa disparada de casos, inclusive, em regiões que antes não tinham dengue. Isso está acontecendo na França, Espanha, Estados Unidos, Argentina. E, mesmo aqui no Brasil, em Estados mais frios como Paraná e Rio Grande do Sul, ou regiões mais altas como Campos do Jordão [SP]”, disse o infectologista Celso Granato, professor da Unifesp e diretor clínico do Grupo Fleury.
O infectologista alerta para o aumento de casos de doenças tropicais agravadas pelo aquecimento global como a própria dengue, chikungunya e zika — todos em curva crescente no Brasil. Além disso, outras variantes da dengue tem surgido no país, o que pode levar a uma piora do quadro do paciente caso ele seja infectado por vírus distintos. “O mosquito, que está mais forte, transmite doenças como febre amarela, malária. É preciso estar atento, com políticas públicas preventivas”, disse.
Na sexta-feira, o Estado de Minas Gerais e a cidade do Rio de Janeiro decretaram que vivem uma epidemia da dengue.
Segundo Granato, essa primeira fase de imunização ajuda, mas não será suficiente para resolver o problema porque o volume de vacinas que chegou ao país não é suficiente para quantidade de casos da doença no Brasil.
Na primeira etapa do programa, o governo adquiriu 1,4 milhão de doses da vacina da Takeda para atender crianças de 10 a 14 anos, público mais atingido atualmente pela doença. Como cada paciente precisa tomar duas doses, serão cerca de 700 mil beneficiados. Há uma demanda mundial pela vacina da Takeda, uma vez que a doença está se alastrando globalmente. “Estou otimista com a vacina do Butantã, que trouxe resultados com altas taxas de eficácia, mas deve vir somente em 2025”, disse.
As três primeiras semanas de janeiro apresentaram crescimento constante de casos da doença. Já entre os dias 21 a 27 de janeiro, houve uma queda de quase 30% em relação à semana imediatamente anterior, segundo dados Ministério da Saúde. Já considerando apenas os laboratórios particulares de medicina diagnóstica, a demanda por testes de dengue aumentou 21% e a incidência de positividade manteve-se na casa dos 25%, mostra levantamento da Abramed, associação do setor.
No Grupo Fleury, dono das bandeiras como Fleury, a+ e Hermes Pardini, a procura por testes para diagnóstico da dengue triplicou em janeiro, quando comparado há um ano.