O colombiano Jair Alfonso Abril Rojas passou as últimas semanas pensando no que fazer. Se não representa redenção, o carnaval é a chance de respirar financeiramente.
Dono de restaurante em Pinheiros (zona oeste da capital), Rojas tem discurso semelhante a outros empresários do setor: é preciso ficar aberto nesses quatro dias de festa para recuperar o que foi perdido no mês passado.
“O movimento neste ano está muito estranho. Em janeiro percebemos uma queda significativa das vendas comparado com anos anteriores. Foram 25% a menos do que no mesmo período de 2023”, afirma ele, nascido em Bogotá e que prepara pratos inspirados na cozinha de seu país natal.
Rojas não é um caso isolado. Pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) aponta que 81% dos comércios do setor não pensam em fechar no carnaval. Destes, 75% esperam ter aumento de faturamento. São 33% os que veem a data como período “muito importante” para o resultado financeiro anual.
Isso é relevante porque 40% dos comerciantes têm dívidas em atraso, dos quais 26% não conseguem se manter em dia com contas de consumo como água, gás e energia elétrica. São 19% os com mensalidade de aluguel em aberto e 70% os inadimplentes em impostos federais.
É um cenário pior do que a média nacional. Outra pesquisa, feita no ano passado em parceria entre o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Sebrae, mostrou que três em cada dez pequenas companhias, de todos os ramos de atividade econômica, estão endividadas no Brasil.
“Janeiro foi bem ruim, realmente. Não é um mês bom, geralmente, mas este foi pior do que a média. Estamos apostando bastante no carnaval porque há muitos blocos de rua, gente festejando e como estamos bem localizados para isso, tenho fé que vamos vender bastante. Temos alguns lanches novos por causa disso”, acredita Aníbal Mascarenhas, dono de um bar na região da República, centro da capital.
Ele vai vender pratos rápidos e leves para os foliões que forem às ruas acompanhar os bloquinhos. É estratégia parecida com a de Rojas, que criou sanduíches e incrementou o serviço de delivery.
Os índices da Abrasel não abarcam janeiro de 2024 e destacam dezembro de 2023. Segundo o trabalho “Situação econômica alimentação fora do lar”, 18% dos donos de bares e restaurantes no país tiveram prejuízo no último mês do ano passado, enquanto 48% registraram lucro, um incremento de 5% em relação ao mesmo período de 2022.