A ativista e especialista em questões militares na Venezuela, Rocío San Miguel, foi detida quando estava prestes a fazer uma viagem para o exterior, denunciaram organizações de direitos humanos e políticos da oposição neste fim de semana. Poucas semanas antes, 36 pessoas foram presas, acusadas de cinco supostos planos para assassinar o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e a captura de outras 11 foi ordenada pela procuradoria-geral da república — um grupo que inclui ativistas de direitos humanos, jornalistas e militares no exílio. As autoridades não fizeram ainda nenhuma declaração oficial sobre o caso.
De acordo com relatos iniciais de ativistas, a detenção de San Miguel, uma advogada de 57 anos e crítica do governo do presidente Nicolás Maduro, ocorreu na sexta-feira no aeroporto Simón Bolivar, em Maiquetía, estado de Vargas.
O anúncio da neutralização de cinco “conspirações” de assassinato contra Maduro foi feito pelo procurador-geral do país, Tarek William Saab, aliado político do presidente. No dia, 32 pessoas foram presas — número que aumentou para 36 dias depois.
Uma dessas conspirações seria conhecida como “Braçadeira Branca”, na qual San Miguel estaria supostamente envolvida. A conspiração consistia em um ataque a uma base militar em Táchira, na fronteira com a Colômbia, para tomar armas e assassinar líderes chavistas.
Maduro, que está concorrendo à reeleição este ano, frequentemente denuncia conspirações para derrubá-lo e assassiná-lo.
A prisão de San Miguel gerou uma onda de manifestações de organizações e partidos políticos do país. Segundo a imprensa local, usuários das redes sociais também passaram a usar a hashtag “#DóndeEstáRocío” (Onde está Rócio, em tradução livre) para exigir a libertação da advogada.
Na rede social Instagram, o jornalista e ativista de direitos humanos Luiz Carlos Díaz explicou que San Miguel e sua filha, desde 2012, têm medidas cautelares da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) após terem sofrido ataques e assédio.
Em 2018, San Miguel, presidente da ONG venezuelana Social Watch, ganhou um caso contra a Venezuela perante a corte pela violação dos direitos políticos e de expressão, após ter sido demitida de um órgão público por apoiar em 2003 a convocação de um referendo revogatório contra o então presidente Hugo Chávez (1999-2013).
“Devemos exigir sua libertação, que sua integridade seja respeitada, que o desaparecimento forçado cesse e que ele não seja mais vítima de ataques por seu trabalho”, afirmou Díaz, citado pelo jornal venezuelano El Pitazo.
A ONG Provea, voltada para direitos humanos, confirmou a prisão da ativista em uma publicação no X, antigo Twitter, neste domingo. Na mesma publicação exigiu “a libertação imediata [de San Miguel]” e denunciou “que esse novo abuso faz parte da dolorosa prática de perseguição contra aqueles que defendem e exercem direitos”.