Mesmo sendo um dos principais alvos da investigação que mira a chamada “Abin Paralela”, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) não tem enfrentado pressão para deixar a comissão do Congresso Nacional que fiscaliza as atividades de inteligência.
Ramagem deve prestar depoimento à Polícia Federal (PF) sobre o caso nesta terça-feira (27), em Brasília. A casa e o gabinete dele na Câmara foram alvo de busca e apreensão da PF em 25 de janeiro.
Diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no governo Jair Bolsonaro (PL), ele é investigado pelas suspeitas de que, sob seu comando, a agência tenha espionado pessoas ilegalmente e levantado informações privilegiadas para Bolsonaro e seus filhos.
Mesmo com Ramagem na mira da PF, integrantes da Comissão Mista de Controle de Atividades de Inteligência (CCAI) afirmam que ele deve continuar na comissão. Como membro, o deputado tem acesso a todas as informações sigilosas recebidas pelo colegiado e participa de sessões fechadas.
Até mesmo parlamentares da base do governo Lula (PT) dizem que o colega bolsonarista não perdeu nenhuma das prerrogativas do mandato. Por isso, só poderia sair da CCAI por opção própria ou decisão judicial – apesar de não haver clima no grupo para acionar a Justiça.
Deputados e senadores negam corporativismo e afirmam que uma das formas de intimidar um político é torná-lo investigado. Parlamentares do núcleo bolsonarista lembram, por exemplo, da ação contra o senador Marcos do Val (Podemos-ES), no ano passado.
Na ocasião, o senador deixou a CPI do 8 de janeiro. Colegas de Marcos do Val ressaltam que, mais de oito meses após a ação autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ainda não se sabe o que há de concreto contra o senador.
Desde que foi alvo da PF, Ramagem procurou dar sua versão dos fatos aos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). As duas conversas ocorreram com ajuda do senador Dr. Hiran (PP-RR), que é próximo de Lira.
Segundo relatos, Lira sugeriu que Ramagem buscasse se explicar por meio da imprensa sobre as acusações de espionagem. Já Pacheco perguntou ao deputado se houve algum monitoramento ilegal, o que Ramagem nega ter feito – e lhe desejou boa sorte.
A CCAI é formada por 12 parlamentares. Ramagem foi indicado para participar da comissão pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), líder da minoria na Câmara em 2023. A líder atual, Bia Kicis (PL-DF), disse à reportagem, por meio de sua assessoria, que vai manter Ramagem na vaga.