Como a aplicação de logística reversa pode alavancar ações sustentáveis no país | ESG – Finanças Global On

Como a aplicação de logística reversa pode alavancar ações sustentáveis no país | ESG

O quadro de emergência climática e seus múltiplos reflexos sobre a sociedade têm impactado de forma decisiva o setor privado e suas principais lideranças, cada vez mais atentas e rigorosas quanto ao cumprimento e a importância da execução da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Por esse motivo, a demanda pela aplicação de logística reversa por entidades gestoras vem progressivamente se expandindo pelo país, proporcionando um diálogo frequente com a iniciativa privada e o poder público para a estruturação das chamadas cadeias de reciclagem: coleta seletiva e estruturação para o tratamento local dos resíduos produzidos, visando evitar a destinação de materiais valiosos para a reciclagem para aterros, bem como o fortalecimento e remuneração das centrais e organizações de catadores parceiras e dos profissionais envolvidos.

É notável o avanço coletivo da sociedade na preocupação com o destino final das embalagens pós-consumo, um resultado de esforços conjuntos para estruturar a cadeia em todos os estados brasileiros, com participação do poder público – promotorias e secretarias – para fomentar essa expansão.

Junto com o papel essencial desempenhado por operadores, organizações de catadores e centrais de triagem, é possível fomentar ativamente o aumento da quantidade de materiais que retornam ao ciclo produtivo no contexto da economia circular, gerando impactos socioambientais positivos para a sociedade. Essa circularidade vai além dos materiais reciclados, ela se expande para vidas que são transformadas como trabalho de coleta, triagem e venda dos resíduos. Mais de 800 mil pessoas em nosso país atuam diariamente nessa transformação.

São catadores de materiais que muitas vezes ficam invisíveis para grande parte da população. O crédito de reciclagem é responsável por criar incentivos financeiros que permitem que as cooperativas e centrais aumentem sua renda e se estruturem para aumentar a capacidade produtiva, separando mais tipos de materiais. Um exemplo é o RedeTransforma, apoiado pela eureciclo, que já contribui com mais de 200% de aumento na retirada mensal média dos catadores que integram a iniciativa.

Para 2024, a grande novidade no âmbito da PNRS é a execução estadual da resolução do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares), que prevê um piso de 30% para a recuperação das embalagens colocadas no mercado pelas empresas, além do encerramento de todos os lixões. Assim, é previsto o aumento da recuperação de resíduos para cerca de 50% em 20 anos.

O engajamento das empresas em ações que integram a agenda ESG é essencial como parte do processo de educação ambiental da reciclagem de embalagens pós-consumo. O Planares também define que as metas são por tipos de materiais das embalagens pós-consumo e prioriza os créditos das organizações de catadores, beneficiando assim a sociedade e toda a ponta da cadeia produtiva e de reciclagem. Mas o aumento das taxas de reciclagem corresponde também a aumento de renda

Durante o primeiro trimestre deste ano, Goiás, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo e o Distrito Federal preveem em lei o recebimento dos Relatórios Anuais de Logística Reversa de Embalagens, no qual empresas que comercializam e/ou distribuem produtos em embalagens têm que comprovar perante o poder público como executaram e cumpriram suas metas de reciclagem.

Interessante trazer à tona como o trabalho de todos envolvidos no terreno da logística reversa está conectado aos anseios e percepções da sociedade sobre o tema, assim como o aumento de credibilidade às empresas que desenvolvem uma agenda de sustentabilidade estruturada e transparente, incluindo, por exemplo, selos verdes em suas operações. Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Quantas revelou que o selo eureciclo lidera como o mais conhecido no Brasil quando se trata de iniciativas de reciclagem.

Os resultados do estudo demonstram que o selo eureciclo foi reconhecido por mais da metade dos entrevistados e que também influencia positivamente o comportamento dos consumidores e agrega valor e credibilidade às marcas que os utilizam em seus rótulos.Também revelou que 77% dos entrevistados consideram que os selos ambientais demonstram o compromisso das marcas com o meio ambiente, sustentabilidade e reciclagem e são de grande importância.

Outro ponto importante são as percepções constatadas em pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), chamada “Sustentabilidade e Opinião Pública”. Importante ressaltar que os cidadãos menos escolarizados são os brasileiros que mais descartam corretamente o lixo reciclável: 55% das pessoas analfabetas separam sempre o resíduo para reciclagem.

Os números vão caindo quanto mais a escolaridade aumenta: 50% entre aqueles com ensino fundamental, 45% entre os que têm ensino médio e 44% com ensino superior. Por meio da disseminação da informação sobre esses temas, podemos esclarecer pontos importantes, nos livrarmos de tabus ainda presentes na rotina dos profissionais da reciclagem no país, poderemos avançar sobre essa pauta e contribuir com um futuro com menos impacto dos resíduos sobre a sociedade.

Empresas e sociedade têm um papel fundamental e crescente – desde as escolhas éticas e responsáveis dos materiais aplicados pela indústria em suas embalagens até as compras da prateleira do supermercado – no panorama que integra ações de produtores e consumidores em um mesmo ciclo de ações sustentáveis e conscientes, que deve estar presente como um novo paradigma mundial da educação ambiental cidadã e seus reflexos virtuosos e positivos a todo o planeta.

Marcos Matos é engenheiro de formação e possui MBA pela Babson College, em Boston. Atuou como CFO do grupo Morena Rosa antes de se juntar à eureciclo, em 2018. Como cofundador da eureciclo, combina sua expertise em negócios com sua paixão pela sustentabilidade para liderar iniciativas inovadoras que gerem impacto socioambiental

(*) Disclaimer: Este artigo reflete a opinião do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Marcos Matos, cofundador da eureciclo — Foto: eureciclo/ Divulgação
Marcos Matos, cofundador da eureciclo — Foto: eureciclo/ Divulgação

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