Lira reclama de saber pelo DOU sobre demissão de primo do Incra | Política – Finanças Global On

Lira reclama de saber pelo DOU sobre demissão de primo do Incra | Política

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), está contrariado com a demissão do superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Alagoas, publicada hoje no “Diário Oficial da União”. Ele negociava a substituição com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira.

Foram dois motivos principais de irritação, segundo apurou o Valor. A primeira é que a saída ocorre dias após ele criticar publicamente o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, o que causou ruídos de que seria uma retaliação. a outra foi a forma como a demissão ocorreu.

O superintendente em Alagoas era César Lira, um dos primos do presidente da Câmara, que ocupava o cargo há três anos, desde o governo Bolsonaro (PL). Movimentos sociais como o MST e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) pressionavam para que ele fosse trocado, sob a acusação de ser um “bolsonarista infiltrado”, crítica com a qual Lira não concorda.

Teixeira tinha prometido aos movimentos que a substituição ocorreria em abril, quando César Lira planejava sair para concorrer a prefeito de Maragogi (AL), cidade hoje comandada por outro primo do presidente da Câmara. O grupo político escolheu outro candidato e César tinha ficado no cargo, embora ainda exista a possibilidade de ele concorrer a vereador pelo PP.

Os movimentos sociais, então, enviaram uma carta ao governo ameaçando invadir a unidade do Incra em Alagoas em protesto se a troca não ocorresse até ontem. Teixeira avisou Lira no domingo e tentou marcar uma reunião em Brasília na segunda-feira, mas o presidente da Câmara só chegou à meia noite na cidade e o encontro não ocorreu.

O ministro assinou a demissão na segunda-feira e o ato foi publicado no “Diário Oficial da União” desta terça-feira.

O presidente da Câmara disse a interlocutores que, de fato, negociava a substituição, mas que não foi avisado diretamente da demissão, não concordava com a substituição com base em “ameaça” e que sequer teve tempo de falar com o primo – que, na conversa, poderia sair “a pedido” e não demitido, como consta do Diário Oficial.

Segundo fontes, Lira tinha convocado organizações de produtores rurais e cooperativas para reunião nesta terça-feira em Brasília para discutir um nome “ponderado”, que não tivesse a pecha de bolsonarista, mas também não fosse favorável as invasões de terra.

O governo indicou que o presidente da Câmara poderá escolher o novo superintendente do Incra, mas isso ainda não está certo. Do lado de Lira, inclusive, fontes relatam que a insatisfação foi tão grande com o modo que a saída ocorreu que ele avaliaria não aceitar mais o cargo, numa escalada maior de insatisfação com o governo Lula (PT).

César foi demitido quatro dias depois de Lira atacar publicamente o ministro Alexandre Padilha, a quem ele chamou de “desafeto pessoal” e incompetente. Padilha é o responsável pela interlocução com o Congresso e pela negociação de cargos com os parlamentares.

O momento da troca fez suscitar ruídos de que a demissão ocorreu como “retaliação” de Padilha, o que Teixeira negou ao Valor. “Isso foi decisão minha, não foi discutida com a área política do governo, foi decisão minha”, disse o ministro.

Segundo Teixeira, a substituição foi necessária por causa da “extrema animosidade” do César com os movimentos sociais da região. “Essa decisão, de forma nenhuma, desrespeita o presidente Arthur. O tempo político [da decisão foi meu] porque o nível de hostilidade do César com os movimentos estava crescendo a um nível inadministrável”, afirmou.

Lira e Teixeira se encontraram nesta manhã para conversar sobre a demissão e tentar diminuir a temperatura. O presidente da Câmara prometeu que não haverá retaliação ao governo na pauta de votações, mas voltou a reclamar do tratamento dispensado pelos governistas apesar de sua contribuição para a pauta do Executivo avançar.

Arthur Lira — Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados
Arthur Lira — Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados

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