OCDE quase dobra projeção do PIB do Brasil para 3,2% em 2023 | Assis Moreira – Finanças Global On

OCDE quase dobra projeção do PIB do Brasil para 3,2% em 2023 | Assis Moreira

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Economico (OCDE) projeta agora crescimento de 3,2% da economia brasileira neste ano. É quase o dobro de sua estimativa de junho, mas aponta expansão mais modesta para 2024. Globalmente, o crescimento continuará fraco, mas positivo.

Em relatório interino sobre as perspectivas globais, a organização faz sua segunda maior revisão justamente nas estimativas sobre o PIB brasileiro, com uma diferença de 1,5 ponto percentual em relação a estimativa feita há apenas três meses – uma ilustração da citação de que previsões são difíceis, especialmente sobre o futuro.

Em junho, a projeção da OCDE era de crescimento de 1,7% da economia brasileira, o que já representava um salto comparado à estimativa de 1% feita em março. Agora, a maior mudança foi em relação à Rússia, com contração esperada de 1,5% em junho passando para expansão de 0,8%, numa revisão de 2,3 pontos percentuais.

‘Entre as economias emergentes do G20, as surpresas de crescimento têm sido, em sua maioria, positivas até agora neste ano, especialmente no Brasil, ajudado por resultados agrícolas favoráveis relacionados ao clima, na Índia e na África do Sul’, diz a OCDE.

Jens Arnold, chefe da divisão na OCDE que acompanha a situação brasileira, observa que uma parte do crescimento no Brasil no início deste ano, mais forte do que esperado, é um efeito temporal relacionado ao desempenho muito forte do setor agrícola. ‘O desempenho no início do ano sempre é muito importante para o crescimento do ano, devido à maneira que o crescimento anual vem calculado nas contas nacionais’, diz ele.

A OCDE revisou também para cima a projeção para 2024 para o Brasil , com o crescimento da economia passando de 1,2% em junho para 1,7% agora. ‘O crescimento forte deste ano é, ao menos parcialmente, devido a fatores temporários, climáticos. Isso implica, de maneira mecânica, um crescimento menor no ano que vem’, acrescenta Jens.

Para o economista da OCDE, para voltar a alcançar o mesmo nível de atividade deste ano sem ajuda desses fatores temporários, a economia brasileira vai ter que crescer mais. E isso num cenário em que a economia global vai ter um crescimento mais moderado, reduzindo potencialmente as exportações do Brasil.

‘Se a China cresce menos, vai ter menos demanda para os bens que o Brasil exporta no mercado global’, diz. ‘Isso pode reduzir as exportações do Brasil e os preços que pode conseguir para suas exportações lá fora’.

A vizinha Argentina, outro grande parceiro comercial, poderá sofrer contração de 2% neste ano e de 1,2% no ano que vem, ou seja, ficará mais pobre. A inflação argentina é projetada para chegar a 118% neste ano e aumentar para 121% no ano que vem, sempre a maior taxa entre os países do G20.

Na Argentina, a contração da economia continuará no ano que vem — Foto: Matheus De Moraes Gugelmim/Pexels
Na Argentina, a contração da economia continuará no ano que vem — Foto: Matheus De Moraes Gugelmim/Pexels

A projeção para a inflação no Brasil é de que a taxa cai de 9,3% no ano passado para 4,9% neste ano e fica abaixo dos 4% no ano que vem.

No curto prazo, Jens destaca a importância de uma melhora das contas fiscais, no contexto do novo marco fiscal. ‘Nesse sentido o Brasil tem feito muito progresso e vemos com bons olhos os esforços do governo de reconciliar a prudência fiscal com o investimento, que será importante para o crescimento futuro’.

Além disso, a avaliação é de que reforma tributária ‘tem muito potencial para melhorar a produtividade no médio prazo’. A expectativa é de que tanto o novo marco fiscal como a reforma tributária ‘vão impulsar a confiança, e isso ajuda para o crescimento mesmo antes de que as reformas sejam implementadas’.

A OCDE observa que, após um início de 2023 mais forte do que o esperado, ajudado pelos preços mais baixos da energia e pela reabertura da China, o crescimento global vem desacelerando. O impacto da política monetária mais rígida está se tornando cada vez mais visível, a confiança das empresas e dos consumidores diminuiu e a recuperação esperada na China se desvaneceu.

Projeta crescimento do PIB global sempre abaixo da média, com 3% (ou 0,3% a mais que em junho) em 2023 mas caindo para 2,7% (ou -0,2%) em 2024, afetado pelo aperto da política macroeconômica necessário para controlar a inflação.

O crescimento anual do PIB nos Estados Unidos pode desacelerar de 2,2% este ano para 1,3% em 2024. Vários economistas ainda consideram que uma aterrissagem suave para a economia poderá ser difícil.

Na zona do euro, onde a demanda já está moderada, a expansão do PIB fica em 0,6% em 2023 e pode subir para 1,1% em 2024, à medida que o impacto adverso da inflação elevada sobre a renda real for se dissipando.

O crescimento na China, segunda maior economia do mundo e maior parceiro comercial do Brasil, perdeu força, com o ímpeto inicial da reabertura pós-covid se dissipando e os problemas estruturais no setor imobiliário continuando a pesar sobre a demanda chinesa. Ainda assim, a China crescerá 5,1% (a projeção era de 5,4% antes) em 2023 e 4,6% em 2024.

RIsco de desaceleração mais acentuada na China — Foto: Ng Han Guan/AP
RIsco de desaceleração mais acentuada na China — Foto: Ng Han Guan/AP

A inflação básica está diminuindo, mas o núcleo da inflação permanece persistente em muitas economias, com pressões de custos e margens elevadas em alguns setores. A inflação ficará moderada em 2023 e 2024, mas permanecerá acima da meta do banco central na maioria das economias.

Para a OCDE, os riscos na economia mundial permanecem inclinados para o lado negativo. A incerteza sobre a força e a velocidade da transmissão da política monetária e a persistência da inflação são as principais preocupações. Diz que os efeitos adversos das taxas de juros mais altas podem se mostrar mais fortes do que o esperado. E uma maior persistência da inflação exigiria um aperto adicional da política que poderia expor as vulnerabilidades financeiras.

A política monetária precisa permanecer restritiva até que haja sinais claros de que as pressões inflacionárias subjacentes tenham diminuído de forma duradoura, sugere em todo caso a organização sediada em Paris.

Outro risco é uma desaceleração mais acentuada do que a esperada na China. Isso afetaria o crescimento da produção em todo o mundo.

Constata também que os governos enfrentam pressões fiscais cada vez maiores por causa do aumento da dívida e de gastos adicionais com o envelhecimento da população, a transição climática e a defesa. Diz que ‘esforços aprimorados’ de curto prazo para reconstruir o espaço fiscal e planos de médio prazo confiáveis são necessários para alinhar melhor as políticas macroeconômicas de curto prazo e ajudar a garantir a sustentabilidade da dívida.

Deixe um comentário