Brasil tem desafio de dobrar em uma década área agricultável sem desmatamento | UBS – Finanças Global On

Brasil tem desafio de dobrar em uma década área agricultável sem desmatamento | UBS

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Favaro, afirmou que, apesar dos imensos avanços em tecnologia e produtividade, o agronegócio brasileiro ainda tem muito para evoluir na construção de imagem. “Nós temos que levar aos nossos produtores tudo o que o país tem feito com sucesso, isso é um incentivo à produção sustentável. Ao mesmo tempo, temos que mostrar ao mundo que podemos aumentar muito a nossa produtividade, cumprindo as regras ambientais”, destacou o ministro durante o Agriculture Investment Conference, realizado pelo UBS ¹, em 24 de outubro em São Paulo, e que reuniu autoridades e líderes empresariais do segmento.

O titular da Agricultura enfatizou que o país está diante de uma meta histórica: dobrar em uma década a área agricultável de 40 milhões de hectares expandida nos últimos 40 anos, sem desmatamento. “O Brasil conta com 67 milhões de hectares de área cultivada e 160 milhões de hectares degradados de pastagens. Aos menos 40 milhões de hectares destes últimos são plenamente conversíveis para a produção. Não precisamos cortar mais nenhuma árvore”. Para isso, é preciso atrair investimentos privados que combinem aumento de produção com uma visão de sustentabilidade e inovação tecnológica.

Aurélio Pavinato, CEO da SLC, produtora de grãos na zona de Cerrado em sete estados brasileiros, salientou que, enquanto a produtividade média do campo no mundo cresce 1,4% ao ano, no Brasil ela atinge 3,6%. A questão agora é evoluir o modelo. “A primeira etapa de crescimento do agro foi a produtividade, mas agora estamos mudando para a etapa da sustentabilidade”, afirmou.

Aurélio Pavinato, CEO da SLC. — Foto: Leo Orestes/Glab
Aurélio Pavinato, CEO da SLC. — Foto: Leo Orestes/Glab

A demanda por uma economia verde, capaz de fazer frente ao câmbio climático, e a preservação do meio ambiente, sem criar uma crise global de insegurança alimentar, colocam o Brasil em posição competitiva muito favorável. Ricardo Faria, fundador da Granja Faria, que produz 16 milhões de ovos por dia, lembra que, há 10 anos, milho e soja eram usados basicamente para ração animal, realidade que está mudando rapidamente com o avanço dos biocombustíveis. Ele aponta que somente uma empresa, a Inpasa, já consome 5% da produção nacional de soja para a produção de biodiesel.

“Tudo leva a crer que os Estados Unidos deixarão de exportar soja em alguns anos, porque vão canalizar a produção para biocombustíveis de segunda geração, os HVOs”, disse, em referência aos Hydrotreated Vegetable Oil, que são 100% renováveis por não usarem nenhum insumo derivado de combustível fóssil na composição.

Mauro Mendes, o governador do Mato Grosso, maior produtor de milho do país, com safra de 52,5 milhões de toneladas em 2022, ressaltou que o bicombustível precisa ser reconhecido a principal alternativa brasileira para a transformação energética. “Temos um potencial imenso de produção de etanol de milho e biodiesel. Não podemos cair no modismo do carro elétrico, que pode fazer sentido em outros países, mas que demanda uma tecnologia que não possuímos, enquanto somos pioneiros no mundo em combustíveis renováveis”, afirmou. O Mato Grosso saiu na frente e já é em etanol de milho do país, com 4,4 bilhões de litros no ano passado.

Investimentos em inovação

A oportunidade de liderar a transformação verde traz de volta a questão da imagem do agronegócio brasileiro, baseada em melhores práticas sustentáveis e alta qualidade, para a expansão internacional. Favaro destacou que o governo brasileiro tem investido nos últimos 10 meses na diversificação comercial. Foram 53 novos mercados abertos desde o início do ano, como a venda de carne bovina para o México, uma negociação que se arrastava há 20 anos. O governo também aprovou a venda de carne de frango com certificação Kosher para Israel, o maior consumidor per capita da proteína do mundo e com alto valor agregado. Mais emblemático, de acordo com Favaro, foi abrir exportações de algodão para o Egito. “Equiparamos o nosso produto ao país reconhecido pelo melhor algodão do mundo”, disse.

Para que o país conquiste essa percepção de excelência e sustentabilidade, por sua vez, é preciso ampliar investimentos em tecnologia, rastreabilidade e certificações, o que ainda é um gargalo importante. Eduardo Miron, CEO da Frigol, ressalta que o Brasil é um dos poucos países do mundo que tem excesso de produção de bovinos para exportar e possui plantas de abate com controles sanitários muito bons. O país, porém, carece de uma ação coordenada para certificação e exportações. “Não existe uma colaboração visando construir um modelo integrado para vender lá fora; cada empresa, cada estado e até cada município faz do seu jeito. Existe falta de liderança forte para que se definam as regras comuns”, enfatiza.

Eduardo Miron, CEO da Frigol. — Foto: Leo Orestes/Glab
Eduardo Miron, CEO da Frigol. — Foto: Leo Orestes/Glab

O governador mato-grossense também enfatizou outro gargalo regulatório: a falta de um modelo integrado nos organismos internacionais para avaliar as barreiras ambientais, baseada nas legislações de cada país ou bloco econômico. “Muito do que se está colocando como barreira ambiental é, na verdade, barreira comercial. O Brasil precisa se precaver a essa situação”, salientou Mendes.

Some-se a isso os problemas históricos na logística, seja na malha de transportes a estrutura portuária, ou na construção de silos para a estocagem da safra de grãos. “A infraestrutura ainda é um problema muito grande para a competitividade do agro, mas o novo PAC, que tem entre as suas prioridades o setor rodoferroviário, será um vetor importante de investimentos”, adiantou o ministro da Agricultura.

¹ Credit Suisse, a UBS Group Company.

Este material é meramente informativo e não constitui nenhum tipo de análise de valores mobiliários, recomendação ou prestação de serviço de qualquer natureza.

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