ESG, segurança alimentar e profissionalização no campo atraem fundos internacionais | UBS – Finanças Global On

ESG, segurança alimentar e profissionalização no campo atraem fundos internacionais | UBS

Ano após ano, o Brasil tem aumentado o capital intensivo disponível para a agricultura, impulsionado em grande medida pelo crédito público. Em 2023, o Plano Safra atingiu a marca histórica de R$ 420 bilhões, 25% mais do que no ano passado. Desse volume, somente o Banco do Brasil respondeu por R$ 240 bilhões, o que deve aumentar sua carteira no agro em até 18%.

O forte crescimento do PIB do agro, que só neste ano deverá chegar a 15% este ano, frente aos 3% esperados pela economia como um todo, exigirá cada vez investimento privado para sustentar sua expansão. E não bastarão os recursos disponíveis pelos próprios produtores, por isso o país precisa criar mais mecanismos de atração de investimento.

“Só na América Latina, temos mais de US$ 200 bilhões [cerca de R$ 1 trilhão] em ativos, e um percentual relevante desses clientes vem do agronegócio. Além disso, nossos outros clientes estão cada vez mais procurando oportunidades de investimento no agro, que afinal de contas é a grande força motriz do Brasil”, afirmou Marcello Chilov, Head of UBS Global Wealth Management Latin America e CEO do Credit Suisse Brasil, durante o Agriculture Investment Conference, realizado pelo UBS ¹, em 24 de outubro em São Paulo, que reuniu autoridades e líderes empresariais do segmento.

Sylvia B. Coutinho, Country Head Brazil e Region Lead LatAm no UBS, vê de maneira positiva o interesse do mercado em oferecer novas fontes de captação de recursos. “Um terço do financiamento ainda vem dos próprios produtores, mas eu vejo um ingresso muito positivo do agro no mercado de capitais e no interesse crescente dos investidores no setor”, explicou Sylvia. 2

A diversificação, por sua vez, exige esforço conjunto do mercado e governo para simplificar o fluxo de investimento, sobretudo em moeda estrangeira. Presente ao encontro, o Ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Favaro, reforçou a necessidade de modernização do mercado financeiro para se ajustar às necessidades do agro. “O governo realizou pela primeira vez o lançamento de linhas de crédito dolarizadas, num total de 840 novos contratos este ano, mas não é suficiente. Precisamos desburocratizar as linhas de crédito para atrair mais operadores privados”, afirmou, Carlos Favaro.

O cenário macro também é um fator limitante e vai depender da redução dos juros para acelerar o investimento privado. “Todos os grandes bancos de investimento já têm um bom pipeline de investimento no agro, mas a taxa de juros continua atrapalhando um pouco a atração de fundos do exterior. Mas estamos na transição [do ciclo de juros], com um governo que vem fazendo reformas que nos deixarão mais fortes”, destacou Francisco Lassalvia, Vice-presidente de Atacado do Banco do Brasil.

Além da conjuntura, a melhoria de gestão, processos e mecanismos de compliance são fatores fundamentais que estão ajudando as empresas do agro a entrar no radar de mais investidores. “A profissionalização do setor tem proporcionado o melhor acompanhamento de estoques, vendas antecipadas, e tudo isso faz com que investidores olhem para o agro como um business que traz retorno bastante positivo”, avaliou Felipe Prince, Vice-presidente de Controles Internos e Gestão de Risco do Banco do Brasil.

Ex-CEO da Marfrig e experiente executivo financeiro dentro do setor, Eduardo Miron assumiu no ano passado o comando da Frigol, com exportações de carne bovina e suína para mais de 60 países, apostando em um novo modelo para estruturação de capital de investimento. “Existe espaço para empresas médias tomarem posição com o mesmo perfil de uma companhia listada. O nosso modelo é fazer os mesmos processos que elas fazem, para atrair uma perspectiva ao mercado de que podemos abrir capital”, destacou o CEO do frigorífico. Já em 2022, a Frigol fez sua emissão de papéis para captação de investidores.

Fatores externos também exercem um papel bastante positivo para o interesse no agro brasileiro, a começar pelo suprimento de alimentos diante do crescimento da demanda mundial e a pressão dos riscos climáticos. Como ressaltou Lassalvia, o Brasil possui 200 milhões de habitantes e alimenta 700 milhões de pessoas no planeta. O executivo do BB avalia que o Brasil tem se posicionado com uma agenda internacional muito mais forte, o que gera interesse de estrangeiros, como é o caso do fundo soberano da Arábia Saudita. “Lá existe um excesso de liquidez enorme e eles estão muito interessados em comprar participações minoritárias de empresas brasileira pela questão da segurança alimentar”.

A sustentabilidade é o segundo fator que pode dar o impulso definitivo ao interesse de investimento nos produtores do Brasil. Ex-presidente do BNDES, Gustavo Montezano, aliou-se a um time de peso para fundar a YvY, gestora de private equity focada em empresas verdes. O novo negócio tem como sócios o ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, o diplomata e ex-diretor geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), Roberto Azevedo, e o ex-CEO do Bank of America no Brasil, Rodrigo Xavier.

Gustavo Montezano, CEO da YvY. — Foto: Leo Orestes/GLab
Gustavo Montezano, CEO da YvY. — Foto: Leo Orestes/GLab

“Ficou bem claro que existia o gap de um player robusto dedicado à agenda de transição ambiental e climática. Queremos ser sócios minoritários dos ‘climate winners’, ajudando essas empresas com capital intelectual e financeiro para essas empresas, afirmou Montezano. O YvY pretende atuar em quatro verticais: transição energética, recursos naturais, agroindústria, saneamento e resíduos sólidos.

“A sustentabilidade é uma externalidade muito positiva para o Brasil. Temos todo o crédito de carbono ainda não mapeado, uma fonte de receita em dólar ainda inexplorada”, acrescentou Prince, do BB. O colega de banco Lassalvia ressalta ainda que esse é um cenário que veio para ficar. “O ESG vai definir quem está dentro ou fora do mercado. É uma agenda cara, importante, e precisamos fazer com que essa liquidez venha para o Brasil”.

O Ministro da Agricultura acredita, porém, que não é preciso “ter a ganância” de mensurar imediatamente o sequestro de emissões de gases de efeito estufa pelo agro em busca de rentabilidade rápida. “O primeiro passo é sair conquistando novos mercados pelas boas práticas, até que se estabeleça um modelo de comércio consolidado de pegada de carbono”.

¹ Credit Suisse, a UBS Group Company.

Este material é meramente informativo e não constitui nenhum tipo de análise de valores mobiliários, recomendação ou prestação de serviço de qualquer natureza.

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