Após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fazer uma “limpa” na diretoria da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Alexandre Padilha, diz em entrevista ao Valor que a existência de uma “Abin paralela”, como apontam as investigações da Polícia Federal, não é um caso isolado no governo. Na avaliação do titular da articulação política, diversas instituições governamentais foram “contaminadas” durante a gestão Jair Bolsonaro. Por isso, ele defende que é preciso estar em “alerta permanente” quanto ao mesmo risco em outros órgãos.
Padilha tem sido alvo de críticas no Congresso. Nos últimos dias, inclusive, auxiliares de Arthur Lira (PP-AL) enviaram recados, via imprensa, de que o presidente da Câmara estaria rompido com o ministro. Sobre isso, ele disse que o governo tem um “time”, que pode fazer “rodízio” no diálogo com os líderes do Parlamento. E acrescentou que o jogo da sucessão pelo comando da Câmara “não pode estar acima da agenda do país”.
Em meio a essas adversidades, ele adiantou as prioridades do Executivo que serão apresentadas ao Congresso na retomada das atividades legislativas. A lista inclui a regulamentação da reforma tributária, um “novo Desenrola”, a ampliação do crédito consignado a pessoas físicas e pautas ligadas à economia verde. Em outra frente, ele defendeu o veto à criação das emendas de comissão, o qual gerou novo atrito com o Congresso.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
Valor: Auxiliares do presidente da Câmara andam espalhando que ele está rompido com o senhor…
Alexandre Padilha: Nós temos um time de ministros que tem uma interlocução muito importante do governo do Congresso, isso é positivo. A gente faz isso de forma conjunta. Fazemos isso combinados, eu, ministro Fernando Haddad [Fazenda], o Rui Costa [Casa Civil], Simone Tebet [Planejamento], com esse tema do Orçamento. Isso é feito de forma combinada, e o tempo todo conversamos com o Congresso. Nunca teve, da parte do governo, nenhuma atitude de fechar o diálogo ou romper com o diálogo. E nunca teve de nenhuma liderança do Congresso, inclusive os dois presidentes, nenhuma atitude de romper o diálogo com o governo.
Valor: Mas o senhor é o chefe da articulação política. O que vai fazer para consertar essa relação?
Padilha: Você não pode personalizar as relações institucionais. Não é o Alexandre, não é o Luís Barroso, não é o Arthur, não é o Rodrigo. Nós estamos falando de relações institucionais.