No recente Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, políticos e líderes empresariais trocaram reflexões sobre como a transição energética mundial poderia ser impactada por uma vitória de Donald Trump na corrida presidencial nos Estados Unidos em novembro. Neste ano, no entanto, uma ameaça ainda maior para o futuro das políticas ambientais mais ambiciosas pode surgir como resultado das votações que ocorrerão em 27 países da Europa.
As eleições para o Parlamento Europeu (PE), em junho, têm potencial para desestabilizar aquela que vem sendo uma das forças mais fortes a favor das políticas climáticas. Embora nos últimos anos o PE tenha aprovado alguns dos planos de redução nas emissões de carbono mais contundentes do mundo (a meta da União Europeia é reduzi-las em 55% até 2030), há sinais de que os eleitores estão inclinados a favorecer candidatos de uma direita mais cética em relação aos problemas climáticos. Tudo isso ocorre em um momento crucial para a aplicação do plano de neutralidade de carbono do bloco econômico.
As pesquisas de opinião pública mais atuais indicam grandes perdas de terreno para alguns dos maiores defensores de políticas climáticas, o Grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia, de centro-esquerda, e o Renovar a Europa, de tendência liberal. Isso poderia levar o Partido Popular Europeu, de centro-direita, que provavelmente permanecerá o maior grupo, a criar uma coalizão informal, ao menos para algumas votações, com aliados de direita, o grupo Conservadores e Reformistas Europeus e o Identidade e Democracia. Os três grupos têm sido os menos favoráveis às políticas ambientais nos últimos dois mandatos.
O redirecionamento à direita reflete tendências também vistas nos países-membros do bloco, como mostram as eleições recentes na Holanda e na Itália, e o crescente apoio a partidos de extrema direita na França, Alemanha e Suécia, entre outros.
A incerteza em torno das eleições parlamentares deste ano cria uma pressão adicional de tempo para a aplicação do Pacto Verde da UE – o plano de transformação da região idealizado para alcançar uma economia positiva para a natureza e com neutralidade de carbono até 2050. Apesar das restrições ambientais dos altos escalões já terem sido definidas e de grandes mudanças no projeto do bloco serem improváveis, a UE ainda precisa aprovar uma série de políticas e regulamentações mais detalhadas para garantir que o plano seja alcançado. Por isso, as instituições que regem o bloco tentarão aprovar projetos pendentes antes das eleições de junho. Isso inclui propostas sobre o desempenho energético de edifícios, padrões sobre as emissões de gás carbônico dos veículos novos pesados, planos sobre a edição genética e um arcabouço de certificação para a remoção de carbono.