Dólar cai em dia de Powell e Campos Neto | Finanças – Finanças Global On

Dólar cai em dia de Powell e Campos Neto | Finanças

O dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira (3) em queda, em uma sessão marcada por comentários menos conservadores de Jerome Powell, o presidente do Federal Reserve (Fed), além de uma postura mais parcimoniosa do chefe do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre a intervenção no mercado de câmbio. Diante disso, o real voltou a acompanhar os pares emergentes, abandonando a lanterna da lista de 33 divisas mais líquidas analisadas pelo Valor.

Terminadas as negociações, o dólar comercial encerrou em queda de 0,35%, cotado a R$ 5,0404, depois de ter tocado a mínima de R$ 5,0353 e encostado na máxima de R$ 5,0913. Perto das 17h10, o dólar futuro para maio exibia depreciação de 0,56%, a R$ 5,0540. O euro comercial encerrou em alta de 0,25%, a R$ 5,4605. Já o índice DXY operava em queda de 0,52%, aos 104,272 pontos.

O mercado de câmbio continuou na mira dos agentes financeiros. Os investidores avaliavam que, se o real permanecesse descolado dos pares, o Banco Central poderia fazer novas intervenções no mercado. Ontem, a autoridade monetária realizou leilão de swaps, equivalentes a US$ 1 bilhão. A justificativa do BC é que há um vencimento de NTN-A (títulos atrelados ao dólar) que estariam fazendo pressão no mercado.

Apesar da interferência de ontem, o real continuou descolado dos pares em toda a sessão de terça e parte da sessão desta quarta-feira. Na leitura de um operador, o real voltou a caminhar ao lado dos pares somente após o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, demonstrar cautela em relação a novas intervenções no câmbio.

Na manhã de hoje, em evento do Bradesco BBI, Campos Neto, afirmou que a interferência no câmbio não ocorreu por conta da recente queda do real, mas pela pressão das NTN-As. “Entendemos que o câmbio é flutuante e o BC tem que fazer intervenções quando há disfuncionalidade na moeda”, disse. De forma geral, o presidente do BC ressaltou que, quando se olha o comportamento do câmbio em 2024, o real está “relativamente ok” comparado com outras moedas no mundo emergente.

Para o gerente da mesa de derivativos da Commcor, Cleber Alessie Machado, o Banco Central tem agido de forma técnica nessa intervenção, sem “mostrar os dentes”, ao fazer um primeiro swap cambial de 20 mil contratos, equivalentes a US$ 1 bilhão. “O BC foi muito parcimonioso e técnico, como costuma ser nessa gestão do Roberto Campos Neto. A autarquia não quis responder bruscamente a essa pressão por conta das NTN-As e fazer um leilão de US$ 3,6 bilhões de uma vez”, diz.

“Talvez sob outra gestão, a autoridade fosse ser mais agressiva, mas como o Campos Neto vem do mercado, ele acompanha os movimentos. Por isso, mesmo que os investidores desafiem o BC para ver até onde ele vai atuar, acredito que da mesma forma que até aqui o BC foi bastante cauteloso, até o dia 12 de abril [quando ocorre o fixing dos vencimentos das NTN-As] ele vai fazer muita avaliação antes de qualquer nova interferência.”

Para o tesoureiro de um grande banco, a não reação do mercado após a intervenção do BC pode ter indicado que a pressão que havia no mercado não era pontual por conta dos vencimentos dos títulos, mas algo mais estrutural. “Há uma série de motivos, com um cenário desafiador no exterior; um fluxo cambial menor do que o do ano passado; há um BC cortando juros. Tudo isso é ruim para a moeda”, diz. “Por isso, ao meu ver, essa pressão tem pouco a ver com os vencimentos da NTN-As. Se tivesse muita relação, ontem o mercado teria despencado.” Na leitura do executivo, o BC até pode fazer novos leilões com a desculpa de que o montante a pressionar o mercado é de US$ 3,7 bilhões, e o swap até agora só contemplou US$ 1 bilhão. “Mas mais do que isso não vejo como o BC endereçar intervenções.”

Hoje, o movimento de depreciação do dólar também esteve muito ligado ao cenário externo, o que reforça a leitura do tesoureiro. A moeda americana perdeu força globalmente após o presidente do Fed, Jerome Powell, dizer que ainda é cedo para dizer que a inflação alta de 2024 se sustentará e que dados recentes não alteram o cenário geral da economia.

Deixe um comentário