Negacionismo de Milei sobre mudanças climáticas preocupa brasileiros | Brasil – Finanças Global On

Negacionismo de Milei sobre mudanças climáticas preocupa brasileiros | Brasil

A postura negacionista do presidente eleito da Argentina, Javier Milei, em relação às mudanças climáticas virou motivo de preocupação para brasileiros nas negociações para combater o aquecimento global. O Brasil receberá a COP30, em Belém, daqui a dois anos. No fim do mês, será um dos protagonistas da COP28, nos Emirados Árabes Unidos.

Milei já atribuiu as discussões climáticas ao “marxismo cultural” e, ao longo da campanha eleitoral, ele manifestou a intenção de retirar seu país do Acordo de Paris, assim como o fez o ex-presidente americano Donald Trump, durante seu mandato.

Em entrevista coletiva nesta segunda-feira (20), em Brasília, o embaixador André Corrêa do Lago, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Itamaraty, e Ana Toni, secretária nacional de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, buscaram ser cautelosos sobre possível virada de rumo do país vizinho. Mas admitiram que seria “péssimo” se Milei cumprisse sua promessa, embora o peso da Argentina nas negociações não seja tão grande quanto a de países como Brasil, EUA ou China.

Eles também foram questionados sobre a possibilidade de os americanos deixarem novamente a mesa de negociação. Corrêa do Lago disse se fiar na atuação de cientistas em ambos os países para manter o envolvimento dos governos nas negociações.

Ele afirmou que, hoje, o quadro climático é “muito diferente” daquele quando Trump foi eleito, há sete anos. Agora, eventos extremos ocorrem com maior frequência em diversas partes do globo.

“O Brasil está terrivelmente surpreendido com quantos eventos extremos estão acontecendo no nosso país, que nós sempre achamos que era um dos países onde isso menos acontecia. E isso está acontecendo também na Argentina, está acontecendo nos Estados Unidos, você vê o Canadá, as coisas que estão acontecendo. Então, eu acho que, primeiro, é muito diferente do momento em que houve esse negacionismo mais acentuado, que foi há alguns anos atrás”, disse o embaixador.

“Então, vamos aguardar, mas eu acredito que a resposta a isso definitivamente é a ciência. Então, eu espero que também haja dentro da Argentina, como há dentro dos Estados Unidos, um movimento muito grande daqueles que realmente conhecem o fenômeno da mudança do clima. E, como nós sabemos, a Argentina tem um mundo extraordinário de cientistas e acadêmicos. Vamos ver se eles têm um debate interno sobre esse tema que leve a um posicionamento que seja construtivo com relação à negociação.”

Pandemia e guerra na Ucrânia

Ana Toni, por sua vez, ressaltou a importância da “estabilidade” para assegurar uma política global de combate às mudanças do clima. E disse que outros fatores, como a pandemia e guerra na Ucrânia, tiveram efeito negativo nas negociações.

“Para combater as mudanças do clima, estabilidade é muito bom. Você pode fazer planos, porque você sabe o que esperar para a economia, você dá os sinais econômicos necessários. Então, estabilidade é favorável ao combate às mudanças do clima, qualquer tipo de estabilidade econômica, social”, disse ela.

“Então, nesse sentido, qualquer volta dos Estados Unidos saindo seria péssimo, óbvio que seria péssimo. Qualquer outro país saindo, se a Argentina resolver, seria péssimo. A covid, a guerra que está acontecendo agora na Ucrânia, entre a Ucrânia e a Rússia, todos esses fatores de grandes instabilidades são ruins para o combate às mudanças do clima.”

A secretária afirmou que é importante ter “resiliência na governança climática”, para que não haja uma mudança de rumo ao sabor dos governos. E que é importante o esforço do Brasil nesse sentido, porque a mudança no clima “não é mais teoria, é prática”.

“Se um dia o Trump viesse a voltar [ao governo], tomaria a mesma atitude [retirar os EUA do Acordo de Paris], sim ou não? Eu acho que o mais importante é a gente se concentrar nessa resiliência da governança climática o máximo possível, porque a conscientização das mudanças do clima não é mais teoria, é prática”, disse.

“Eu acho que o esforço nosso tem que ser feito em relação a isso. Quando eu falo governança, não é só o acordo de Paris, mas o G20, os sistemas bancários, de financiamento, para blindar um pouco dessas mudanças que acontecem na política, na vida”, completou.

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