Barrada pelo Supremo Tribunal da Venezuela de assumir cargos públicos pelos próximos 15 anos, a ex-deputada María Corina Machado, líder da oposição, é o pivô do retorno das sanções dos Estados Unidos contra o governo de Nicolás Maduro.
A ex-deputada venceu com folga as primárias organizadas pela oposição para eleger um candidato único que enfrentará Nicolás Maduro na tentativa de impedir a reeleição do herdeiro político de Hugo Chávez, que foi eleito pela primeira vez em 2013 e busca o terceiro mandato de seis anos.
Porém, na última sexta (26), o Supremo Tribunal confirmou sua inabilitação para concorrer às eleições presidenciais, colocando em risco o exercício da democracia nas eleições presidenciais venezuelanas, previstas para o segundo semestre de 2024, mas ainda sem data definida.
Em resposta, María descartou a possibilidade de desistir das eleições:
“Recebi o mandato de quase 3 milhões de venezuelanos, que exerceram a soberania popular em 22 de outubro [data das primárias]. Eu represento a soberania popular. Não podem fazer eleições sem mim”, disse em um comício três dias após a última decisão.
Ela foi proibida de ocupar cargos públicos sob a acusação de que participou de um esquema de corrupção orquestrado pelo simbólico governo interino do dirigente opositor Juan Guaidó, mesmo que fosse uma de suas críticas mais duras.
Esse processo teve início em 2015 e previa uma proibição de assumir cargos públicos no prazo de um ano, inicialmente. À época, a Controladoria-Geral da República (CGR) alegou “inconsistência e ocultação” de ativos na declaração de bens que María apresentou ao órgão no período em que ela foi deputada, entre 2011 e 2014.
“É uma punição de caráter administrativo e isso foi motivado pela inconsistência, pela ocultação de alguns ativos que ela deveria ter apresentado oportunamente em sua declaração de bens. Especificamente se trata das prestações sociais e alguns auxílios financeiros que ela recebeu da Assembleia Nacional quando exerceu o cargo como deputada. Ao não incluir isso na declaração de bens, a lei contra a corrupção considera isso uma inconsistência que acarreta de maneira automática na inabilitação por 12 meses”, disse o então Controlador-geral da República, Manuel Galindo Ballesteros, em entrevista à TV estatal VTV à época.
Na punição mais recente, o órgão afirmou na decisão que a investigação patrimonial seguiu ao longo dos últimos anos e que encontrou novos supostos delitos que teriam sido cometidos pela ex-parlamentar, como a depósitos e notas de crédito de origem não conhecida em bancos nacionais e depósitos de origem desconhecida em moeda estrangeira.
A decisão do CRG ainda cita supostas ligações de María com a tomada de controle da subsidiária da petrolífera estatal PDVSA nos EUA, a Citgo, e a da Colômbia, a Monómeros. A controladoria ainda cita que a ex-deputada defendeu as sanções internacionais contra a Venezuela.