Nos últimos anos, sempre que se viu acuado, esta é a terceira vez que Jair Bolsonaro conclama seus apoiadores às ruas em seu apoio. Ainda durante o seu mandato, o ex-presidente se valeu das comemorações da Independência do Brasil em 2021 e 2022 para, nas suas palavras, “tirar uma fotografia” da multidão em verde amarelo para demonstrar a sua força. Desta vez, a urgência da operação Tempus Veritatis não permitiu que se esperasse o 7 de setembro.
As análises políticas das duas manifestações anteriores, de 2021 e 2022, se dividiram em três interpretações para as reais intenções de Jair Bolsonaro ao convocar as massas.
Para alguns, os eventos tinham objetivo meramente eleitorais. Com popularidade em baixa (2021) e atrás de Lula nas pesquisas eleitorais (2022), Bolsonaro teria buscado energizar seus seguidores para evitar uma derrota nas ruas.
Outros analistas entenderam que, ao mobilizar milhares de apoiadores e subir ao palanque com um discurso contra os demais poderes da República, Bolsonaro media a temperatura para um eventual golpe. Em 2021, inclusive, houve concentração de caminhoneiros nas estradas, enquanto um ano depois, hoje se sabe, um ato democrático era uma opção concreta sendo discutida por integrantes do seu governo.
A terceira hipótese levantada em 2021 e 2022 apostava que, ao agitar milhares de pessoas para irem às ruas, Bolsonaro sinalizava para a classe política, e especialmente aos ministros do Supremo Tribunal Federal, que o custo de alguma ação política (impeachment, no caso de 2021) ou judicial (declaração de inelegibilidade em 2022) contra ele seria elevado.
Neste 25 de fevereiro de 2024, o contexto é completamente diverso. Derrotado nas urnas, Bolsonaro ainda foi declarado inelegível até 2030 pelo Tribunal Superior Eleitoral, o que esfria suas intenções de animar sua base de eleitores.
E com a Polícia Federal e o Supremo Tribunal Federal no seu encalço pela organização dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, na manifestação de hoje Bolsonaro se mostrou muito mais cauteloso.
No palanque, marcaram presença deputados, senadores e quatro governadores (Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Ronaldo Caiado e Jorginho Melo), além de lideranças religiosas.
No primeiro discurso, a ex primeira-dama Michelle Bolsonaro deu o tom da manifestação de hoje. Nas suas palavras, foi um erro acreditar na separação entre política e religião. Silas Malafaia, coorganizador e patrocinador do evento, sorriu satisfeito.
Também em tom de pregação, Nikolas Ferreira lembrou das histórias bíblicas de Moisés, que libertou o povo de Deus, e de Caleb, escolhido como seu herdeiro para governar uma parte do território na terra prometida. Nikolas não poderia ser mais explícito, pois é o pré-candidato bolsonarista ao estratégico governo de Minas em 2026.