O ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou nesta segunda-feira (26) que “setores religiosos” ajudaram a mobilizar a manifestação, em São Paulo, em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), investigado pela suposta participação em uma tentativa de golpe de Estado. Na avaliação do ministro, a adesão de religiosos se deve por influência de líderes que tentam acobertar Bolsonaro.
“Diante do que eles [bolsonaristas] tinham divulgado e da força que eles tiveram no passado, não teve nenhuma surpresa [o tamanho da manifestação]. Todos conhecem e sabem que o país se encontra num grau de polarização e pregação de ódio grande. Eventualmente, setores religiosos são mobilizados por seus líderes religiosos para pedir cobertura e anistia para crimes cometidos”, disse a jornalistas.
O ex-presidente convocou a manifestação há duas semanas, depois de ter se tornado alvo de uma operação da Polícia Federal que apura tentativa de golpe de Estado, abolição do Estado Democrático de Direito e associação criminosa em 2022, durante seu governo. Milhares compareceram à avenida Paulista.
Apesar de não citar diretamente, a afirmação de Rui Costa faz referência a evangélicos que apoiam o ex-presidente e foram às ruas nesse domingo para defendê-lo. Um dos líderes presentes na manifestação, por exemplo, foi o pastor Silas Malafaia, da Igreja da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que custeou o evento e mantém relação de proximidade com Bolsonaro.
Sobre o ato, Rui Costa procurou dar ênfase ao que classificou como uma confissão de Bolsonaro durante seu discurso. O ex-presidente indicou, no ato, que tinha conhecimento sobre a chamada “minuta do golpe”, um dos elementos de prova da investigação em curso contra ele sobre a suspeita de tentativa de golpe de Estado. Na semana passada Bolsonaro optou por ficar em silêncio em depoimento à Polícia Federal sob a alegação de que não teve acesso à íntegra das informações do inquérito.
Além disso, segundo integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) e da Polícia Federal (PF) ouvidos pelo Valor, ao fazer um apelo ao Congresso Nacional para que aprove a anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro, o ex-presidente admite ter havido crime.
“[A manifestação] Foi muito aquém dos que os próprios organizadores vinham divulgando, a surpresa é só em elação ao conteúdo da confissão dos crimes praticados. O Brasil inteiro ficou surpresa. Talvez seja a primeira vez na história que alguém chama um evento em praça pública e confessa o crime. E vai além disso: pede anistia aos crimes praticados. ‘Tentei fazer o golpe, mas não tive êxito’. É um negócio inusitado, estarrecedor”, afirmou o ministro.