Na contramão da maioria das cidades brasileiras, Pelotas, no Rio Grande do Sul, e Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, apresentam quedas consideráveis nos crimes de violência urbana nos últimos anos. E a menção positiva de ambas como exemplos de políticas bem-sucedidas na área de segurança pública não é coincidência. As duas passaram por uma espécie de choque de gestão que remodelou as ações, antes baseadas em estratégias militares mais intensas, para incorporar análise de dados e evidências científicas no combate ao crime.
Em Niterói, números relacionados a assassinatos e roubos atingiram patamares historicamente baixos em 2023 mesmo estando ao lado do Rio de Janeiro, onde os índices de criminalidade continuam elevados. A quantidade de roubos a transeuntes, roubo de aparelho celular e roubo em transporte coletivo caiu de 4.891 em 2018 para 1.152 em 2023. Em relação a assassinatos, houve uma queda de 112, em 2018, para 35 no ano passado. Roubos de cargas também caíram de 241 em 2018 para 35 no mesmo período. E a queda mais chamativa é o número de carros roubados, que foi de 2.206 em 2018 para 196 no ano passado.
Em comparação com o Rio, Niterói apresenta números muito melhores nas taxas por 100 mil habitantes. Enquanto na capital fluminense o índice de homicídios dolosos é de 14,87 por cada 100 mil moradores, na cidade do outro lado da baía o número é de 6,75. Em relação a roubos de rua, a taxa no Rio é de 461,78 e em Niterói, 222,12. A maior distância se dá em roubos de veículos: 181,16 no Rio e 37,79 em Niterói.
“Niterói tem 515 mil habitantes, mas antes tinha proporcionalmente de duas a três vezes mais crimes que a cidade do Rio de Janeiro. Hoje tem menos da metade dos crimes que a capital”, destaca o doutor em políticas públicas e mestre em ciências criminais Alberto Kopittke. Ele participou como consultor da elaboração do Pacto Niterói contra a Violência, implementado em 2018.
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O programa tem como fio condutor o uso de inteligência de dados para identificar “pontos quentes”, onde a incidência de crimes costuma ser maior, e investimentos em soluções articuladas entre áreas diferentes do governo local. Nesse modelo, que não segue exatamente a mesma receita para todos os municípios, a ostensividade policial faz parte da estratégia, mas não é a política pública em si.